Título: Câmbio impede que corte de juros permita crescimento maior do país
Autor: Cássia Almeida e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 01/12/2006, Economia, p. 31

Dólar baixo, desfavorável a exportações, fez aumentar compras do exterior

RIO e SÃO PAULO. As 12 reduções seguidas na taxa básica de juros da economia ¿ a última delas anunciada pelo Banco Central anteontem ¿ foram insuficientes para dar mais vigor à economia brasileira este ano. Diferentemente do que ocorreu nos outros ciclos de afrouxamento dos juros, desta vez a resposta da atividade econômica foi menos intensa. O dólar baixo, desfavorável às exportações e que fizeram as compras do exterior darem um salto, explica a mudança nessa dinâmica.

O economista Alexandre Bassoli, do HSBC, lembra que as exportações líquidas ¿ vendas para o exterior, descontadas as importações ¿ sofreram uma redução de 37% nos últimos 12 meses. Em 2005, as exportações líquidas tinham avançado 25,6%. É uma mudança de padrão significativa que, mesmo numa economia fechada como o Brasil, faz diferença no PIB.

Giovanna Rocca, do Unibanco, acrescenta que, nos próximos trimestres, o setor externo continuará tendo um efeito negativo no PIB, porque os preços das commodities exportadas pelo Brasil se estabilizaram e a demanda interna deve manter as importações em alta.

A demanda interna, aliás, dá o retrato de como a queda dos juros influenciou positivamente a economia, afirma Caio Prates, da UFRJ.

¿ O consumo doméstico deve fechar o ano em 4,2%. Os juros tiveram efeito sobre isso, e o resultado só não aparece no PIB devido ao impacto negativo do setor externo.

Armando e Adalfina Souza Lima, casal de aposentados, reconhece que ampliou os gastos este ano. A última compra, à vista, foi de um fogão, ontem:

¿ Nós estamos gastando mais, principalmente em passeios e viagens. Neste ano, eu comprei até um laptop.

FGV: indústria deve reagir nos últimos meses do ano

Frente à queda das exportações e a um salto nas importações, a indústria teve um fraco desempenho no PIB: alta de só 0,6%. Mas o setor deve reagir nos últimos meses do ano. Esta é a avaliação do economista Aloisio Campelo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), feita com base em indicadores antecedentes captados pela nova pesquisa da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação.

Pela sondagem, o indicador que mede o nível de demanda chegou a 110 pontos, o maior patamar desde outubro de 2004. Das 1.014 empresas entrevistadas até terça-feira, 18% consideraram ¿forte¿ o ritmo das vendas, mesmo percentual de outubro. E caiu de 10% para 8% o índice dos que responderam que a demanda está ¿fraca¿.

Dos entrevistados, apenas 7% falaram em estoques ¿excessivos¿, ante 11% em outubro e 9% há um ano. A apresentação de encomendas de última hora para o Natal pode ser uma explicação para esse repique. Mas essa reação, de acordo com Campelo, deve ter fôlego curto e pode não se sustentar no início do próximo ano.