Título: Investimento cresce mais que consumo
Autor: Cássia Almeida e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 01/12/2006, Economia, p. 31

Compra de máquinas avança 6% e reduz risco de pressão de inflação

O avanço da demanda doméstica este ano ocorreu graças, principalmente, aos investimentos. A compra de máquinas e equipamentos e o setor de construção civil cresceram 6% entre janeiro e setembro, taxa bem superior à da média do PIB (2,5%) e, também, à do consumo das famílias (3,7%). Na avaliação dos economistas, isso abre espaço para que o Banco Central (BC) continue reduzindo a taxa básica de juros. Com investimentos avançando mais do que o consumo, há menos pressão inflacionária.

¿ O BC pode ficar um pouco menos preocupado com a capacidade produtiva do Brasil ¿ diz o economista Arthur Carvalho, da corretora Ativa.

Para Caio Prates, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, a redução dos juros ocorrida nos últimos meses teve impacto positivo nos investimentos.

¿ Apesar da carga tributária alta, de questões regulatórias e de deficiências em infra-estrutura, o investimento está reagindo. Assim, diminui o risco de que o crescimento seja travado por limitações de oferta ¿ afirma Prates.

O aumento das importações também ajudou a elevar os investimentos, destaca Rebeca Palis, gerente das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE:

¿ A alta das importações trará benefícios futuros, com a elevação da capacidade produtiva e da oferta de produtos.

Jason Vieira, da consultoria UpTrend, não é tão otimista. Ele reconhece que a taxa de investimento dá sinais de ter se recuperado. Porém, será necessário um período maior de crescimento para haver efeitos concretos na economia.

Vieira afirma que uma expansão mais vigorosa do PIB brasileiro só virá com as reformas tributária, trabalhista e fiscal. Além disso, é preciso regulamentar as concessões públicas e as Parcerias Público-Privadas (PPP), para viabilizar investimentos em infra-estrutura.

Se a compra de máquinas e equipamentos pelo setor privado avançou, o mesmo não se pode dizer dos investimentos públicos. Alex Agostini, economista da Austin Rating, lembra que, no passado, o governo tinha um peso de 1% no PIB. Hoje sua participação fica em torno de 0,5%, num retrato da queda nos investimentos em infra-estrutura. (Luciana Rodrigues e Cássia Almeida)