Título: No mundo, 150 países terão expansão do PIB maior do que o Brasil este ano
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 01/12/2006, Economia, p. 33

Desempenho do governo Lula será de 2,6%, contra 2,3% da média de FH

Se o Brasil crescer 2,9% este ano, número que consta nas projeções mais otimistas, ficará na lanterninha do desempenho econômico mundial. Mais precisamente, na 151ª posição entre 182 países para os quais o Fundo Monetário Internacional (FMI) faz estimativas. E, num padrão que se repete há 11 anos, terá um crescimento econômico inferior ao da média mundial, que deverá ser de 5,1%.

Nos quatro anos de seu primeiro mandato, Lula terá alcançado um desempenho ligeiramente superior à média dos dois governos Fernando Henrique: 2,6%, contra 2,3% do antecessor. Porém, em meio a um ambiente internacional mais favorável. Entre 2003 e 2006, o PIB global cresceu sucessivamente a taxas superiores a 4% ao ano. É uma trajetória positiva que não se via pelo menos desde o início da década de 80.

¿ O Brasil parece sofrer de um mal crônico. A economia reduziu seus riscos externos, tem contas públicas hoje melhores do que no passado e inflação sob controle. Mesmo assim, não consegue crescer a um ritmo satisfatório ¿ afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. ¿ O engessamento do governo, que não faz investimentos públicos, é um dos motivos, e isso é um problema que atravessa diferentes mandatos presidenciais.

Rússia terá o dobro do crescimento e China, o triplo

Os analistas lembram que o câmbio desfavorável às exportações e os juros altos da economia brasileira explicam a dificuldade do país de acompanhar o ritmo de expansão global. Com uma taxa de 2,9%, o desempenho do PIB brasileiro em 2006 será semelhante ao de países ricos, o que é péssimo, afirma Jason Vieira, economista da consultoria UpTrend:

¿ Os países desenvolvidos sempre crescem a um ritmo mais lento porque têm um estoque acumulado de riquezas. Uma expansão de 2% sobre uma economia maior significa muito mais do que a mesma taxa num país de menor porte. O Brasil, este ano, vai crescer menos do que os Estados Unidos ¿ destaca.

A economia americana deverá crescer pelo menos 3,4%. A taxa de 2,9% brasileira ficará mais parecida com a do Japão (2,7%) e com a dos países que integram a zona do euro (2,4%).

Na comparação com a trinca restante dos Brics ¿ sigla usada para os grandes emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China ¿ o resultado também decepciona. A Rússia terá um crescimento de mais do que o dobro do Brasil e a China, de mais do que o triplo.

A Índia, por sua vez, informou ontem uma expansão de 9,2% no último trimestre e deve fechar o ano com seu PIB avançando pelo menos 8%.

Na América Latina, Brasil só está à frente do Haiti

Agostini, da Austin Rating, lembra que muitos desses países crescem a passos largos mesmo sem terem a estabilidade alcançada pelo Brasil:

¿ A Índia tem um forte desajuste fiscal e a Rússia decretou moratória há relativamente pouco tempo, em 1998. Mesmo a Argentina, que sofreu uma forte crise no início desta década, deve crescer 8% este ano. Na América Latina, só vamos ficar à frente do Haiti.

Pelo segundo ano seguido, o Brasil só não perde do Haiti na região. O país caribenho deverá crescer 2,3% este ano.

E, no ano que vem, a escrita do fraco desempenho brasileiro no mundo deve se repetir. O FMI projeta uma expansão global de 4,9% ¿ taxa maior, portanto, do que o crescimento previsto para o Brasil, entre 3% e 4%.

CARGA TRIBUTÁRIA VOLTA A CRESCER, na página 34