Título: Lula defende preço justo para o gás boliviano
Autor: Chico de Gois e Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 01/12/2006, Economia, p. 38

Presidente diz que países devem cobrar por matérias-primas e prega união na Cúpula África-América do Sul

ABUJA (Nigéria) e RIO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou ontem minimizar a ocupação por camponeses de duas áreas da Petrobras na Bolívia. O presidente voltou a dizer que os países têm direito às riquezas produzidas em seus solos e afirmou que as nações consumidoras devem pagar um preço justo pelos insumos que compram.

¿- Na história da Humanidade, todos os países que são detentores de matérias-primas, como petróleo e gás, em algum momento fizeram uma briga para que o potencial dessa riqueza ficasse dentro do país ¿ afirmou Lula, durante a Cúpula África-América do Sul, na Nigéria.

Após uma interrupção de 26 horas, a Petrobras normalizou ontem à noite a produção de gás natural do campo de Caranda, na Bolívia. A área havia sido invadida anteontem por camponeses, e a companhia decidiu reduzir a produção em 1,2 milhão de metros cúbicos diários, para cerca de 22 milhões de metros cúbicos, por medida de segurança. Mas o fornecimento para o Brasil não foi afetado.

Envio de gás da Bolívia será normalizado em dezembro

No total, segundo a Petrobras Bolívia, estão sendo fornecidos ao Brasil 33 milhões de metros cúbicos diários de gás natural, cerca de três milhões a menos que o volume normal, devido a obras em alguns gasodutos. A Petrobras prevê concluir as obras e normalizar o fornecimento de gás ao Brasil na primeira quinzena de dezembro.

Lula considerou normal países como Bolívia e Equador tentarem reajustar preços do gás ou rever os lucros das empresas exploradoras de hidrocarbonetos. O presidente eleito do Equador, o esquerdista Rafael Correa, declarou que pretende reduzir os lucros das petrolíferas estrangeiras que atuam em seu país.

Isso pode afetar os interesses da Petrobras, que mantém atividades em dois blocos de exploração e produção no Equador. Desde 1997, a empresa investiu no Equador mais de US$430 milhões, e injetaria, nos próximos anos, mais US$300 milhões nos dois blocos.

¿ É normal que, se houve acordos que são prejudiciais aos países detentores das matérias-primas, os consumidores, sejam eles Brasil ou Estados Unidos, têm de pagar o preço justo, como nós queremos que quem explore nossos recursos também pague um preço justo ¿- disse o presidente.

Morales volta a defender nacionalização do gás

Na reunião de ontem, o presidente da Bolívia, Evo Morales, sentou-se à mesma mesa que Lula, os dois separados pelo presidente da Líbia, Muamar Kadafi, e da Nigéria, Olusedum Obassanjo. Mas não houve reunião privada entre os dois presidentes sul-americanos.

Morales defendeu a nacionalização dos recursos naturais como forma de melhorar a vida do povo boliviano. Já Lula pediu a união entre os países dos dois continentes no enfrentamento de posições econômicas adotadas pelos países ricos:

¿ Não existe saída para nossos problemas econômicos e sociais se continuarmos a pensar que, sozinhos, haverá saída para a África ou para a América do Sul.

(*) Enviado especial