Título: Leste da Europa: explosão de casos
Autor: Robarta Jansen
Fonte: O Globo, 01/12/2006, O Mundo / Ciência e Vida, p. 42

Aumento de 70% das novas infecções é resultado de descaso com doença

BERLIM. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) advertiu ontem que a Aids ameaça causar uma catástrofe na Europa Oriental. A epidemia se alastrou nos últimos dez anos e, segundo um estudo divulgado ontem na Alemanha, só este ano o HIV contaminou 270 mil pessoas na região. Dietrich Garlich, diretor do escritório do Unicef na Alemanha, disse que esse número representa um aumento de 70% em relação a 2004.

Soropositivos sofrem falta de assistência e discriminação

Aproximadamente 30% dos novos casos são crianças e jovens com menos de 24 anos de idade. Os principais motivos para a propagação rápida da Aids são a falta de informação sobre meios de prevenção e o aumento da pobreza em países que saíram do comunismo para o capitalismo. Quinze anos após o fim da União Soviética, as economias de nações da antiga Cortina de Ferro avançam, mas surgem novos problemas, como o desemprego e um contingente crescente sem acesso à assistência médica.

Nikolai Graschdanow, diretor do Centro de Aids de Donezk, no leste da Ucrânia, destacou que no início dos anos 80 o HIV era um problema desconhecido em seu país. A Ucrânia registrou o primeiro caso de Aids em 1986.

¿ O governo e a sociedade ucranianos simplesmente ignoraram a epidemia de Aids e o seu principal fator de transmissão, o consumo de drogas injetáveis ¿ observou Graschdanow.

O caso da Ucrânia não é isolado. Em todas as ex-repúblicas soviéticas, a Aids passou de doença ignorada até o início dos anos 90 à epidemia galopante hoje. A região é onde o vírus avança mais depressa em todo o mundo. Em dez anos, houve um aumento de 2.000% de novas infecções.

Ulrich Heide, da Fundação Alemã de Aids, frisou que o leste da Europa sofre ainda com a discriminação. Em Kiev, na Ucrânia, há casos de ambulâncias que se recusam a atender soropositivos.

Um estudo do Instituto de Economia Mundial de Kiel (na Alemanha) e da Universidade de Budapeste indicou que a epidemia de Aids já custou 950 bilhões de euros somente às ex-repúblicas soviéticas.