Título: Saldo comercial recua, e governo comemora
Autor: Mariza Louven e Ana Cecília Santos
Fonte: O Globo, 02/12/2006, Economia, p. 44

`Brasil não precisa de superávit tão grande¿, diz secretário. Importações atingem US$8,67 bilhões em novembro

O real valorizado em relação ao dólar continua impulsionando as importações, que crescem num ritmo muito maior do que o das exportações. Em novembro, as importações atingiram US$8,67 bilhões, uma elevação de 29,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto as exportações, de US$11,87 bilhões, avançaram 10%, produzindo a quarta desaceleração consecutiva do saldo, que ficou em US$3,19 bihões. Esta tendência deve permanecer em 2007 e contribuir para equilibrar o câmbio, informou ontem o secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat.

¿ Ainda não fizemos nossas projeções, mas o mercado espera um saldo menor em 2007. O Brasil não precisa de um superávit tão grande. Importar é muito bom, porque, quanto mais as importações crescem, mais diminuem as pressões sobre o câmbio ¿ disse Meziat.

Em novembro, os destaques entre os importados foram combustíveis e lubrificantes, que cresceram 60,4%, e bens de consumo (37,7%).

Alta nas importações alivia pressão sobre o câmbio

O secretário divulgou o resultado da balança comercial de novembro durante o 26º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), onde os exportadores também defenderam o aumento das importações para reduzir o saldo e, assim, diminuir a valorização do real sobre o dólar, aumentando a rentabilidade das vendas externas. Para o presidente da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Roberto Giannetti da Fonseca, o país precisa crescer mais para impulsionar as importações:

¿ É preciso ver a realidade, para não viver de ilusão. Os números da balança são muito bons, mas mostram que as exportações foram impulsionadas pelo aumento dos preços internacionais e não da quantidade.

Não só as exportações de novembro foram recorde no mês, mas também a média diária das importações atingiu US$433,6 milhões, a maior de todos os tempos. Os resultados acumulados no ano não ficaram atrás. Exportações, importações, saldo e corrente de comércio (exportações mais importações) no período de janeiro a novembro de 2006 foram recordes históricos.

Saldo ainda é 1,7% superior ao de igual período de 2005

Em 11 meses, as exportações somaram US$125,24 bilhões,16,6% acima do total registrado em igual período de 2005, quase atingindo a meta prevista para 2006, de US$135 bilhões. Já as importações acumularam US$84,162 bilhões, 25,6% mais, superando o valor de todo o ano passado, de US$73,6 bilhões. O saldo ficou em US$41,074 bilhões, ainda 1,7% acima do período de janeiro a novembro de 2005, e a corrente de comércio atingiu US$209,398 bilhões 20% de aumento).

¿ Embora as importações tenham crescido, em termos relativos, mais do que as importações, em termos absolutos o crescimento das exportações foi maior ¿ disse Meziat.

Apesar do câmbio, as exportações continuam surpreendendo. A previsão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio era de que as vendas externas aumentassem só 12% este ano e já estão 16,6% maiores. Este desempenho está relacionado aos bons preços das commodities ¿ como minério de ferro, soja, açúcar e álcool ¿ no mercado internacional e à utilização do mecanismo de drawback, que permite a importação de matérias-primas com total isenção de impostos, desde que sejam destinadas a produzir bens para exportação.

¿ Os exportadores perdem no câmbio, mas compensam no drawback ¿ disse Meziat.

Giannetti da Fonseca discorda e diz que três quartos do crescimento das exportações no mês decorreram de aumento de preços. Só cerca de 3,5% foi quantidade, enquanto o comércio mundial cresceu cerca de 8%.

O vice-presidente de negócios internacionais e atacado do Banco do Brasil, José Maria Rabelo, disse que nos 11 primeiros meses do ano o volume de câmbio de exportação negociado pela instituição foi de US$35,9 bilhões,16,1% superior ao do mesmo período do ano passado.