Título: Um caminho perigoso
Autor:
Fonte: O Globo, 02/12/2006, O Mundo, p. 47

Reitor do Centro Internacional da Universidade da Flórida e ex-embaixador no Peru, Dennis Jett, acredita que a popularidade de López Obrador está no ponto máximo e começará a diminuir, o que não deve impedir a oposição de tentar obstruir Calderón. Para ele, a obstrução é um caminho perigoso, que poderia levar ao aparecimento de um candidato extremista.

A sessão tumultuada, em que Felipe Calderón tomou posse, é um indício de que a oposição pode bloquear seu governo?

DENNIS JETT: O desafio mais imediato de Calderón é atrair a oposição para conseguir governar ou formar aliança com outros partidos. Ele não vai conseguir transformar López Obrador em amigo, mas pelo menos tem que construir uma coalizão que lhe permita agir. O segundo desafio imediato é fazer algo que atenda às expectativas das pessoas e tenha impacto em suas vidas. Calderón terá desafios econômicos, como criar empregos e reduzir a pobreza. Obviamente a oposição pode bloquear (seu governo), tumultuar o Congresso, organizar protestos nas ruas. Mas agora que ele está no cargo, talvez a atitude seja mais construtiva.

E quanto a López Obrador?

JETT: Acho que a maioria dos mexicanos pensa que, agora que Felipe Calderón foi empossado, deve ter uma chance de trabalhar. Provavelmente o apoio a López Obrador vai diminuir se ele adotar essa atitude de obstruir o governo. É lógico que ouvimos seus simpatizantes (nas ruas), mas acho que a maioria dos mexicanos vai dizer que já basta. As pessoas vão ficar cansadas logo, López Obrador não vai conseguir construir nada e provavelmente está no ponto máximo de seu apoio. Esse apoio deve começar a erodir a partir daqui.

O México viveu por muitos anos o sistema de um único partido no poder. A situação atual pode afetar a transição para o sistema pluripartidário ou a democracia?

JETT: Pode, mas depende do que acontecer. Se Calderón tiver uma chance de seguir em frente, seja bem-sucedido ou falhe, isso será bom para o México. Mas se ficar completamente obstruído, algumas pessoas podem dizer que o sistema de partido único não era tão ruim assim, e isso pode enfraquecer a democracia. Quando as instituições falham, as pessoas buscam alternativas. Os mexicanos, se ficarem frustrados, podem buscar outros caminhos.

E que caminhos seriam esses?

JETT: Um retorno a um partido único, o que não acho provável porque as pessoas ainda se lembram da corrupção do PRI. Outro caminho seria escolher um candidato extremista na próxima eleição, na linha de Morales ou Chávez, alguém que prometa mudar a estrutura política completamente.