Título: Rosales restabeleceu a política nas mãos dos políticos
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 02/12/2006, O Mundo, p. 48

Diretor da campanha opositora diz que país deve superar a tragédia histórica que fez desaparecer suas referências

No comando de campanha de Manuel Rosales, o clima é de forte expectativa, seja qual for o resultado da eleição de amanhã. Segundo afirmou ao GLOBO o diretor de estratégia da campanha opositora, Teodoro Petkoff, ¿o grande mérito da candidatura de Rosales é ter restabelecido a política em mãos de políticos¿. Ele é diretor do jornal ¿Tal Cual¿, ex-candidato à Presidência (renunciou para apoiar Rosales), economista e ex-guerrilheiro.

Esta poderia ser a melhor eleição da oposição desde que Chávez chegou ao poder?

TEODORO PETKOFF: Será a melhor eleição mesmo não vencendo, porque teremos conseguido estruturar um movimento robusto, com futuro. De qualquer forma, neste momento não descarto a possibilidade de uma vitória opositora.

Algumas pesquisas mostram uma vantagem do candidato opositor?

PETKOFF: As pesquisas e a percepção que temos nas ruas. A empresa de consultoria mais respeitada da Venezuela tem uma pesquisa que indica que temos cerca de 27% de indecisos. Esses eleitores poderão optar por Rosales, por Chávez ou pela abstenção.

Em abril de 2002, o golpe contra Chávez foi liderado pela principal federação empresarial do país. Em dezembro do mesmo ano, líderes sindicais e empresariais comandaram a greve geral contra o governo. Em agosto de 2004, a campanha para derrubar Chávez no referendo também foi controlada por líderes civis. O principal mérito de Rosales é ter devolvido a oposição aos políticos?

PETKOFF: O grande mérito da candidatura de Rosales é ter restabelecido a política em mãos de políticos. Acabar com as improvisações passadas.

O desafio então é não voltar a desaparecer, como ocorreu depois da vitória de Chávez em 1998 e das sucessivas ratificações eleitorais do governo...

PETKOFF: Estamos criando condições para construir bases mais sólidas. Demos um grande passo, contribuímos ao surgimento de novas forças políticas e ao fortalecimento dessas forças. Temos de superar a tragédia histórica que significa o virtual desaparecimento das referências políticas na Venezuela.

O principal obstáculo para a oposição na luta contra Chávez é conquistar o voto dos setores populares?

PETKOFF: Chávez é um fenômeno de liderança carismática que não é a primeira vez que aparece na História. O povo que tinha fama de ser o mais culto do mundo, o alemão, entrou na conversa de Hitler, um charlatão. Ele era amado!

Como o senhor definiria o presidente?

PERKOFF: É um homem autoritário, mas não podemos dizer que seja um ditador, embora todos os poderes estejam concentrados em suas mãos. Ele preserva certa formalidade democrática que lhe permite ter o reconhecimento internacional.

O apoio de presidentes como Lula e Néstor Kirchner, da Argentina, foi mal visto pela oposição?

PETKOFF: O apoio de Kirchner não me preocupa, porque não sinto respeito intelectual pelo presidente argentino. No caso de Lula, me irritou profundamente que o presidente brasileiro, que conhece bem Chávez, tenha cometido um erro imperdoável. Lula antecipou que Chávez venceria as eleições e isso me incomodou muito porque eu respeito o presidente brasileiro. Acho que fez um bom governo, apesar dos casos de corrupção. Lula se equivocou. Mas enfim, Pelé também errou alguns pênaltis (risos).