Título: PSDB e PFL procuram rumo para a oposição
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 03/12/2006, O País, p. 10

Em crise, tucanos querem FH no comando de novo programa partidário e pefelistas montam `gabinete sombra¿

BRASÍLIA. A reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há cerca de um mês, com mais de 58 milhões de votos, parece ter provocado uma crise de identidade na oposição. Os dois principais partidos, PSDB e PFL, não reencontraram ainda o rumo. O PSDB, por exemplo, quer que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ¿ cujo governo chegou a ser renegado durante a campanha do tucano Geraldo Alckmin ¿ coordene um grupo de trabalho para reformular seu programa partidário e rediscutir o papel da social-democracia no mundo de hoje. O PSDB está à procura de uma nova roupagem para se apresentar em 2010.

Governadores eleitos querem diálogo com Lula

Mas, enquanto uma ala do partido pensa em remodelar o discurso, os cinco governadores eleitos do partido ¿ Aécio Neves (MG), José Serra (SP), Yeda Crusius (RS), Teotônio Vilela (AL) e Ottomar Pinto (RR) ¿ e mesmo alguns parlamentares ensaiam os primeiros passos para garantir a abertura de um canal de diálogo com o governo Lula.

Por outro lado, enfraquecido com o resultado das eleições, que lhe garantiram apenas o governo do Distrito Federal, o PFL tenta se firmar como principal grupo de oposição ao governo Lula e fala em refundação do partido. Para reconquistar lugar de destaque no cenário político, os pefelistas se dividiram em duas frentes: lançaram o nome de Agripino Maia (RN) para a presidência do Senado e decidiram seguir o conselho do prefeito do Rio, Cesar Maia, que propôs a criação de uma espécie de ¿shadow cabinet¿ (gabinete sombra) como contraponto ao Ministério de Lula.

Com o PSDB e o PFL no divã, cientistas políticos como o professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, Fábio Vanderlei Reis, prevêem que Lula, no seu segundo mandato, poderá ter uma relação mais fácil com o Congresso, especialmente depois da conquista do apoio oficial do PMDB, maior partido nas duas Casas.

¿ Há indícios claros de que o cenário político está mais favorável hoje para o Lula, a começar pelo apoio quase unânime do PMDB, por menos confiável que o partido possa ser. Mas não há como negar também que a oposição vive hoje uma crise e se apresenta enfraquecida neste início do segundo mandato do presidente. Claro que este cenário está sujeito a oscilações, dependendo do êxito ou não da administração petista, de seu poder de acelerar o crescimento econômico do país e da distância que conseguir se manter de novas denúncias de corrupção ¿ observa.

Na avaliação de Fábio Vanderlei, a crise de identidade vivida hoje pelo PSDB e PFL começou a se mostrar a partir da dificuldade da aliança para escolher seu candidato à Presidência e foi reforçada ao longo da campanha com apoios vacilantes ao candidato Alckmin, a ponto dos dois partidos renegarem pontos de seus programas.

¿ A situação do ex-presidente Fernando Henrique, que teve de gritar de fora e foi alijado da última campanha, por si só já seria um indicativo dessa crise. A verdade é que o PSDB foi empurrado para a direita diante dos confrontos sucessivos com Lula e o PT. E a aliança com o PFL se tornou algo duradouro. Falar agora em rediscussão da social-democracia só levaria a legenda ainda mais para a direita, o que poderá dificultar mais sua volta ao poder ¿ acrescentou o professor mineiro.