Título: Um dinossauro político vira senador pelo Rio de Janeiro
Autor: Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 03/12/2006, O País, p. 12

Paulo Duque, 62 anos de carreira, ocupará vaga de Cabral

BRASÍLIA. Segundo suplente do governador eleito Sérgio Cabral, o ex-deputado estadual Paulo Duque (PMDB), que assumirá em janeiro uma cadeira no Senado, pode não ter sido um protagonista na política nacional, mas, ao contrário da maioria dos herdeiros, muitas vezes políticos inexperientes e freqüentemente financiadores da campanha, o peemedebista é um dinossauro político.

Aos 79 anos, o carioca convive há mais de meio século com os líderes da política fluminense, de Carlos Lacerda a Anthony Garotinho, de Chagas Freitas a Leonel Brizola. Sua carreira parlamentar ¿ de oito mandatos ¿ teve início em 1962, na Assembléia Legislativa da Guanabara. Duque não pode ser apontado como o financiador da campanha. No início da conversa, avisa:

¿ Vou ser o senador mais duro aí ¿ diz, provocando a pergunta se pretende ser oposição: ¿ Não! Duro no sentido do dinheiro ¿ esclarece ele, que evita o assunto por ainda fazer política à moda antiga.

Relator da CPI dos mata-mendigos

Se não foi o protagonista, Duque também não foi coadjuvante na política. O livro ¿Paulo Duque¿, da coleção ¿Conversando sobre Política¿, produzido pelo CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, contém episódios de sua história marcantes para o Rio. Sob sua inspiração, por exemplo, foram criados quase todos os 29 municípios que se emanciparam desde 1988.

O batismo de fogo, em 1962, ocorreu quando Duque foi designado relator da CPI dos mata-mendigos. Naquele ano, apareceram mendigos mortos no Rio Guandu que teriam sido jogados pela polícia de Carlos Lacerda. Uma vítima, a potiguar Olandina Japiassú, que havia sido campeã de natação, conseguiu se salvar e denunciou ao jornalista Amado Ribeiro, da ¿Última Hora¿, o caso que virou escândalo, turbinado pelos herdeiros políticos de Getúlio Vargas.

¿ Foi um trabalho hercúleo. Os ânimos eram muito mais radicais do que os de hoje ¿ lembra Duque.

Mas, para a professora Marly Silva da Motta, autora do livro, Duque não faturou eleitoralmente o fato de ter sido o relator da CPI.

¿ Tanto que não foi reeleito (em 1966). Ele é um homem de composição e por isso foi indicado. Uma figura afável.

Duque, entretanto, não gosta da fama e se orgulha de ter sido o autor, oito anos antes dela ter se concretizado, do projeto de fusão da Guanabara e o Rio. Sem encontrar respaldo para seu projeto em 1966, ele assistiria à implementação da idéia pelo governo Geisel, em 1974.

Ao entrar no MDB, como agora, foi beneficiado pela conjuntura política: Chagas brigou com o deputado Aparício Marinho, que disputava com Duque o eleitorado da Zona Sul. Herdou os votos e a relação com o chefe do grupo de quem foi um fiel aliado.

Duque, que queria ter se tornado aviador, entrou na política pelas mãos da mãe, Maria Portugal, funcionária pública ligada ao presidente Arthur Bernardes, fundador do Partido Republicano, pelo qual se candidatou pela primeira vez em 1954. Ele não se elegeu e até hoje lembra com bom-humor uma briga que comprou em casa:

¿ A eleição era muito familiar. Mas eu me lembro de que uma vez fui pedir voto a uma tia, e ela disse que não podia votar em mim porque já tinha compromisso. Nem preciso dizer que nunca mais falei com ela!