Título: Governadores também arrecadaram depois
Autor: Alan Gripp e Maria Lima
Fonte: O Globo, 03/12/2006, O País, p. 13

O campeão foi Alcides Rodrigues (PP-GO); Coteminas, de Alencar, ajudou tucano em PA

BRASÍLIA.Entre os governadores, a maior arrecadação após a eleição foi a de Alcides Rodrigues (PP), em Goiás: sua campanha recebeu R$9,2 milhões dos R$15,8 milhões (58% do total) quando sua vitória já era conhecida. De candidato desacreditado no início a concorrente de peso de Maguito Vilella (PMDB) no segundo turno, Rodrigues apostou as fichas no sprint final da campanha. Aumentou os gastos e foi socorrido após a eleição.

O maior doador privado da campanha de Rodrigues em novembro foi a Egesa Engenharia, empresa com extensa lista de obras realizadas com recursos públicos no estado, além da prestação de serviços. A construtora realiza atualmente a duplicação de estradas, constrói dois viadutos e uma ferrovia e realiza obras de saneamento, entre outras. A Egesa, por meio da assessoria, informou apenas que a doação foi feita legalmente, com o uso de bônus.

Eleito na disputa mais acirrada do país, o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), acumulou dívidas e acelerou o ritmo das arrecadações após o segundo turno. Dos R$13 milhões que conseguiu, R$2,4 milhões foram repassados em novembro. Considerados os 27 governadores eleitos, R$24,9 milhões foram levantados pós-segundo turno. Nas eleições proporcionais, esses recursos atingiram R$43,1 milhões.

Entre as empresas que aceitaram ¿socorrer¿ os candidatos endividados está a Coteminas, do vice-presidente José Alencar. Depois de receber calote de R$11 milhões da campanha de Lula em 2002, a empresa fechou o cofre ao PT, mas foi generosa com candidatos de dois estados. Doou R$408 mil para o governador reeleito da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB) ¿ sendo R$200 mil na semana passada ¿, e contribuiu ainda com R$150 mil para os dois principais candidatos do Rio Grande do Norte: a governadora reeleita Wilma Faria (PSB) e Garibaldi Alves Filho (PMDB), que começou a disputa na frente.

O presidente da Coteminas, Josué Christiano Alencar, filho do vice, admite que ele e seu pai têm uma divida de gratidão com Cássio por terem sido ¿muito bem recebidos¿ na Paraíba. Ele conta que as empresas ¿ uma fábrica de têxteis em João Pessoa e duas em Campina Grande ¿ chegaram à Paraíba quando o estado era governado pelo hoje deputado Ronaldo Cunha Lima (PMDB), pai de Cássio, e este era o presidente da Sudene.

¿ Num encontro com papai, o Cássio o convidou a fazer seu próximo investimento na Paraíba. Já tínhamos uma fábrica no Rio Grande do Norte. Fomos para a Paraíba e só crescemos graças ao apoio do Cássio e outras autoridades locais. Não podíamos deixar de ajudar esse jovem ¿ disse Josué.

Ele diz que as doações estavam programadas apenas para o período da campanha, mas um apelo foi feito recentemente para que compromissos assumidos fossem saldados.

¿ Nós só completamos a ajuda ¿ disse.

Blairo Maggi: operação casada para pagar faturas

No caso do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que recebeu R$1,9 milhão depois de confirmada sua reeleição, seu coordenador de campanha, Luiz Antonio Pagot, disse que isso aconteceu dentro de uma operação casada: já havia previsão de que as empresas, seguindo seus cronogramas, só fizessem as contribuições em novembro, quando venciam compromissos com gráficas e outros fornecedores.

¿ Não é que arrecadamos ou que as empresas só deixaram para doar depois da eleição. Para facilitar para as empresas, fizemos um planejamento de repasses com pagamentos a fornecedores, que venciam em 30, 45 ou 60 dias. Consultamos o TSE e eles disseram que podia ¿ explicou Pagot.

Procurados, dirigentes de dezenas de outras empresas que fizeram doações para governadores não quiseram falar sobre o assunto.