Título: Já segurei a onda. Wagner agora é do povo
Autor: Heliana Frazão
Fonte: O Globo, 03/12/2006, O País, p. 14

A irreverente futura primeira-dama da Bahia rejeita o título, assume ter ciúmes do marido e reivindica salário

SALVADOR. Tão impactante quanto foi a eleição do petista Jaques Wagner, do PT, para o governo da Bahia, após 16 anos de domínio do PFL, promete ser a mudança no estilo de primeira-dama no estado. Sai a discreta Isabel Souto e entra a irreverente, quase extravagante, Maria de Fátima Carneiro de Mendonça, de 47 anos. Vaidosa e exótica, ela gosta de encarnar a artista plástica mexicana Frida Khalo na Parada do Orgulho Gay. Capricorniana, filha de Iansã, nascida em Salvador, Fátima é servidora estadual concursada há 28 anos. Já avisou que, assumindo as Voluntárias Sociais, quer o salário:

¿ Como vou me sustentar? Divido as contas em casa.

Por que não quer o título de primeira-dama?

MARIA DE FÁTIMA CARNEIRO DE MENDONÇA: Primeira-dama é um pouco demais para a minha cabeça. Sei que sou diferente, não quero desfazer de ninguém. Dona Isabel é uma mulher formidável, muito distinta, mas cada uma tem a sua história. O que eu quero é ajudar Wagner. Tenho que exercer isso que botaram no meu colo. Mas nada de primeira-dama, podem me chamar de Fátima, mesmo.

Sua amizade com o presidente Lula sempre foi alvo de comentários. Como encara isso?

FÁTIMA: Para que falar do presidente Lula? Gosto muito dele e de dona Marisa. Dizem que ela não faz nada, mas vocês precisam ver que trabalho extraordinário ela faz, cuidando do Palácio da Alvorada. Pergunte ao Oscar Niemeyer.

Seu jeito extrovertido chama a atenção. Como pretende lidar com isso?

FÁTIMA: Um amigo sempre diz que eu tenho que ser eu mesma, tenho que falar com as pessoas, mas ficar atenta às maldades. Tem gente capaz de construir, mas também de destruir.

Sua espontaneidade causa algum desconforto no governador? Seu marido já pediu para moderar?

FÁTIMA: Não, ele só quer me proteger.

Tem ciúmes do governador?

FÁTIMA: Ciúme é o que se sente ao ver aquilo que é nosso ser dos outros também. Mas já segurei a onda de saber que Wagner agora é do povo. Só peço que venham devagar. Quando chega alguém de forma muito pesada, vou logo dizendo: ¿Menina, menos¿. De qualquer forma, ele sabe onde arromba a cerca.

E no caso de ele vir a ser assediado?

FÁTIMA: Ah! Ele sabe, pau que dá em Chico dá em Francisco. Sempre digo a ele que lá em casa somos os dois do mesmo tamanho (risos).

Dizem que a senhora é meio dondoca.

FÁTIMA: Eu, dondoca? Gosto de ir ao salão, dou minhas corridinhas pela orla, vou à academia. Mas sou enfermeira, e embora no meu nível sejamos consideradas doutoras, não gosto desses títulos. Como poderia ser dondoca?