Título: PF: controladores erraram em desastre aéreo
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 03/12/2006, O País, p. 26

Investigações mostram que radar mostrou altitude errada do Legacy e 3º sargento da Aeronáutica não percebeu

BRASÍLIA. As investigações da Polícia Federal apontam uma série de falhas e omissões dos controladores de vôo de Brasília e de São José dos Campos (SP) que, se fossem corrigidas a tempo, poderiam ter evitado o choque entre o jato Legacy e o Boeing 737-800 da Gol. No desastre, 154 pessoas morreram, na tarde de 29 de setembro. Entre as falhas mais graves relacionadas pela polícia está a desatenção de um 3º sargento do Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Brasília. O militar, de 27 anos de idade e com apenas um ano de experiência profissional, não notou que, mesmo após passar por Brasília, o Legacy se manteve a 37 mil pés de altitude, nível reservado ao Boeing da Gol, que saíra de Manaus.

Os equívocos se tornaram mais evidentes depois dos depoimentos prestados por 13 controladores de vôo de Brasília e de São José dos Campos, que estavam de plantão no dia do acidente. Pelas investigações da PF, as informações sobre a altitude errada do Legacy apareceram durante pelo menos sete minutos na tela do computador do Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Brasília. A indicação da altitude de 37 mil pés do jato permaneceu no computador do sargento das 15h55m48s às 16h02m08s. O choque ocorreu às 16h56m54s.

Interrogado no último dia 22 pelo delegado Rubens José Maleiner sobre o suposto descuido, o sargento teve dificuldade para se explicar. ¿Quanto aos motivos desta não observação, declara que seriam os tráfegos controlados na ocasião¿, diz a transcrição da resposta do sargento. O próprio controlados admite, no entanto, que, naquele momento, era responsável pelo controle de cinco vôos, número considerado baixo pela Aeronáutica. Pelo plano de vôo original, o Legacy viajaria de São José dos Campos até Brasília a 37 mil pés, desceria para 36 mil pés e, a partir de um ponto chamado Teres, já na Floresta Amazônica, subiria para 38 mil pés até Manaus.

O sargento também teria falhado ao não tentar se comunicar com os pilotos do Legacy quando, num determinado momento, surgiram informações da tela de seu computador de que o jato estava a 36 mil pés. Pelas regras da aviação, um avião só pode mudar de altitude se avisar à torre de controle ou se for autorizado previamente por um controlador encarregado da fiscalização do tráfego aéreo. Embora isso não tenha acontecido, o sargento não tentou entrar em contato com os pilotos para saber o que acontecia.

Mesmo com todos estes imprevistos, o sargento repassou o controle do Legacy a um assistente com a informação de que o jato estava a 36 mil pés. O assistente desconfiou que o transponder do Legacy poderia estar com defeito, mas não tomou providência adicional, como avisar os colegas de Manaus sobre o problema. O transponder indica a altitude do avião.

Mas a polícia acha que os equívocos começaram durante a decolagem, quando um suboficial deixou de passar informação completa ao Legacy sobre a até onde poderia viajar na altitude de 37 mil pés. Esse militar também não viu que um dos pilotos americanos disse : ¿I didn´t get the final fix¿, ou seja, que não entendera a mensagem inteiramente.