Título: Auxílios a pobres vão de US$31 a US$127 por mês
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 03/12/2006, Economia, p. 58

China Daily¿ diz que província mais rica recebe maior valor

PEQUIM. Liu Fuhe, diretor-geral do Departamento de Política e Regulamentação do Escritório de Combate à Pobreza e Desenvolvimento (ECPD), diz que o Bolsa Família chinês varia conforme a região em que é adotado, sem citar valores. Mas reportagem do jornal estatal de língua inglesa ¿China Daily¿ informa que, em Guangdong, a mais rica província chinesa, a ajuda do governo chega a mil yuans por mês (US$127), enquanto nas demais essa pensão varia entre 240 yuans (US$31) e 600 yuans (US$76).

Criado em 1986, o ECPD investiu US$20 bilhões e conseguiu reduzir o número de chineses na miséria de 125 milhões de pessoas para 23,6 milhões. De fato, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 2005, a China tirou da pobreza 250 milhões de pessoas nos últimos 25 anos. Já o Banco Mundial informou ontem que 500 milhões saíram da pobreza (ganham mais de um dólar por dia). Trata-se de feito incomparável, que o Brasil não consegue fazer com igual rapidez, guardadas as proporções entre a pobreza nos dois países.

Como a imensa maioria da pobreza na China está no campo, as ações se focam ali. E começaram a tomar impulso ano passado, quando o governo central fez um pacote reduzindo a carga tributária sobre os produtores agrícolas e anunciou um conjunto de obras na área rural. As ações contra a miséria são acompanhadas por fiscais para que o dinheiro efetivamente chegue às mãos de quem precisa.

¿ Fazemos parcerias com os governos locais e, após saber do que os administradores precisam, entregamos o dinheiro aos municípios e cobramos metas, uma diretriz sugerida pelo Banco Mundial. Assim evitamos desvios ¿ afirma Liu.

Ele diz que, dos 592 condados incluídos nos programas, mais de 70% têm acesso a estradas, eletricidade, telefone, saneamento e serviços de saúde cooperativados. E a taxa de matrícula de crianças nas escolas é de 94,7%.

Ainda assim, quando o debate sai da miséria e passa para um conceito maior de pobreza, há controvérsias. O governo admite que o número de pobres (renda de até 924 yuans por mês, ou US$118) encontra-se hoje por volta de 80 milhões. Para a ONU, porém, o país tem 200 milhões de pobres.

¿ Há muito a ser feito. Não consideramos que o crescimento, apenas, dará conta de reduzir as desigualdades num país com 1,3 bilhão de pessoas ¿ diz Liu Fuhe. (Gilberto Scofield Jr.)