Título: Fragilidade dos opositores é um dos maiores trunfos do presidente
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 03/12/2006, O Mundo, p. 60

Segundo especialistas, adversários não apresentaram opção de poder

BUENOS AIRES. Além do carisma, o discurso popular e o forte vínculo com setores mais humildes, a principal fortaleza de Hugo Chávez é a fraqueza de seus opositores. Chávez chegou e permaneceu no poder, em grande medida, pela incapacidade de seus adversários de construírem uma alternativa. Na opinião de analistas venezuelanos ouvidos pelo GLOBO, a oposição passou por um processo de amadurecimento, mas não conseguiu pôr em xeque o poder construído pelo presidente.

¿ Hoje a oposição conta com o respaldo de cerca de 36% da população, mas a rejeição às lideranças opositoras atinge 47% ¿ afirmou Oscar Schémel, diretor da empresa de consultoria Hinterlaces.

Oposição quer investir em novas forças políticas

Segundo ele, as duas grandes pedras no sapato da oposição são ¿a ausência de um discurso popular capaz de conquistar o eleitorado mais humilde e a herança de um passado que não foi esquecido¿.

¿ Para muitos venezuelanos, a oposição ainda está vinculada a elites fracassadas que governaram o país durante décadas ¿ explicou Schémel.

Chávez conhece bem o drama opositor. Na campanha de 1998, o então candidato oferecia aos seguidores uma alternativa ¿aos 40 anos de democracia que não serviram para nada¿. Chávez defendia o fim do chamado ¿Pacto de Punto Fijo¿, assinado pelos partidos Ação Democrática, Copei e União Republicana Democrática em 1958, cujo objetivo foi garantir a estabilidade da recém-instaurada democracia, após a ditadura de Marcos Pérez Jiménez (1952-1958). Antes da vitória de Chávez, os tradicionais partidos venezuelanos se alternaram no poder, prolongando a vigência do pacto selado em 58.

¿ Chávez chegou com um discurso contra o sistema político, contra 40 anos de democracia que ele dizia que não tinham servido para nada. Contra as cúpulas corruptas. O problema foi que nos primeiros anos a oposição não soube como reagir, ficou desnorteada ¿ disse Victor Maldonado, professor da Universidade Católica de Caracas.

Na visão do analista, a incapacidade da oposição de articular uma frente contra Chávez permitiu ao governo assumir o controle do Congresso, elaborar uma nova Constituição, vencer todas as eleições dos últimos anos e liderar uma revolução que parece não ter limites.

¿ Depois de uma primeira etapa de crise total, a oposição foi assumida por lideranças civis, mas a fase terminou quando a sociedade percebeu que esse não era o caminho para derrotar o governo ¿ disse Maldonado.

Segundo ele, ¿hoje os setores antichavistas entendem que é necessário acreditar novamente nos políticos, nas novas forças políticas, como Rosales¿.

Analista acredita em bom resultado da oposição

Em apenas três meses de campanha, Rosales conseguiu conquistar muitos eleitores mas, segundo o diretor da Hinterlaces, ¿subestimou as novas demandas da população¿:

¿ O povo quer igualdade, quer uma democracia renovada, acabar com a humilhação social, quer inclusão. Muitos pobres estão insatisfeitos com Chávez, mas diante de uma oferta pouco atraente da oposição, continuam optando pelo presidente porque sentem que somente ele defenderá seus direitos.

Apesar da péssima imagem do Gabinete chavista, apontou o analista, a popularidade do presidente continua sendo alta.

¿ O vínculo entre Chávez e os setores populares é simbólico, não material. Mas cuidado, depois desta eleição esse vínculo poderia ser ameaçado, pois a sensação que temos é de que a oposição conseguirá um bom resultado ¿ diz Schémel. (J.F.)