Título: Petróleo e diplomacia lado a lado
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 03/12/2006, O Mundo, p. 60

BUENOS AIRES. A revolução bolivariana de Hugo Chávez modificou drasticamente a política externa venezuelana e o relacionamento entre o Executivo e a principal fonte de renda do país: a produção petrolífera. Desde a chegada de Chávez ao poder, a Venezuela optou por reforçar seus vínculos com países latino-americanos e aliados estratégicos na Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), entre eles Irã e Iraque e, paralelamente, endurecer sua posição em disputas com os EUA e organismos internacionais como a ONU. No que diz respeito à produção petrolífera, o governo chavista recuperou para o Estado o controle da produção e exportação, elevou tributos pagos pelas companhias petrolíferas que operam no país, medida que, somada ao expressivo aumento do preço do petróleo nos últimos anos, rendeu fortunas aos cofres do país.

Segundo afirmou ao GLOBO o ex-ministro de Minas e Energia, ex-chanceler e atual embaixador da Venezuela em Cuba, Alí Rodríguez Araque, a política externa de Chávez ¿não nega o relacionamento com os EUA, mas sempre em pé de igualdade e não de subordinação¿.

¿ Nossa política amplia o campo dos amigos, como vem acontecendo, mas também aumenta o número de inimigos. É uma dialética inevitável ¿ admitiu.

Na região, Chávez se aproximou de países como Brasil, Argentina, Bolívia e Cuba, mas protagonizou conflitos diplomáticos com Peru, México e Colômbia. Em novembro de 2005, o presidente chamou o ex-presidente do México, Vicente Fox, de ¿filhote do império¿, por ter respaldado a posição dos EUA nas negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Na visão da analista Ana Maria San Juan, da Universidade Central da Venezuela, ¿o confronto com os EUA não é bom, mas Chávez acertou na defesa da integração, do multilateralismo e da democratização de organizações como a ONU¿.

¿ Chávez poderia moderar o discurso, mas também é verdade que o presidente foi comparado com Hitler por funcionários do governo americano ¿ disse San Juan.

A política petrolífera é considerada um dos grandes sucessos de Chávez. Ano passado, a disparada do preço do petróleo significou uma renda estimada em US$48 bilhões para o Estado. Grande parte dos recursos foi usada para programas sociais.

¿ A companhia Petróleos da Venezuela (PDVSA) melhorou seu desempenho mercantilista e destinou uma grande parte de seus recursos à luta contra a pobreza ¿ enfatizou Rodríguez Araque.

Após a greve geral convocada pela oposição, em dezembro de 2002, Chávez baniu a cúpula da PDVSA, vinculada a elites locais, e assumiu o controle da empresa, hoje peça- chave da estrutura estatal chavista. Para a oposição, tratou-se de mais uma manobra para ampliar o poder do Executivo e administrar com fins políticos o dinheiro do Estado. Para o governo, foi uma vitória histórica.