Título: Epílogo da fusão
Autor: Godofredo Pinto
Fonte: O Globo, 04/12/2006, Opinião, p. 7

Apartir da transferência da sede do governo federal para Brasília, em 1960, o desencontro entre a antiga e a nova capital entrou num círculo vicioso do qual só agora está saindo. A vitória de Sérgio Cabral Filho, no Estado do Rio, e a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva preenchem um vácuo histórico no diálogo entre os dois níveis de governo. É a perspectiva de uma nova maneira de ver esta relação e resolver as dificuldades regionais.

Com a mudança da capital para Brasília, o Rio perdeu status político, não recebeu as compensações prometidas e não chegou a se encontrar como cidade-estado a que foi reduzido. Todos os governantes que o Estado do Rio elegeu, desde a fusão com a antiga cidade-estado da Guanabara, foram, na maioria das vezes, malsucedidos pela falta de relações republicanas com o governo federal. Isto teve um preço alto. Os municípios fluminenses enfrentam grandes dificuldades em viabilizar um desenvolvimento sustentável, com oportunidade e cidadania para todos.

Consciente de que o diálogo é imprescindível, os eleitores do Estado do Rio optaram por um candidato que fez do bom relacionamento com Brasília um dos pilares da próxima administração. Mais que isto, o povo optou por aquele que demonstrou maior interesse em trabalhar alinhado aos prefeitos. Neste momento, de maneira ímpar em quase meio século, os três níveis de governo se encontram como parceiros da mesma causa: reverter o quadro de decadência política, econômica e social a que este estado foi historicamente condenado.

Durante a campanha, a ênfase acentuada na educação e na geração de empregos não foi apenas coincidência eleitoral. São questões prioritárias, que devem ser encaradas de maneira articulada. Não há uma fórmula diferente para cada município. Saúde e segurança pública, por exemplo, não são apenas de um ou de outro: são de todos. É preciso seriedade e união para resolver questões que o tempo só tem feito piorar.

Juntos, o presidente Lula, o governador Sérgio Cabral e os prefeitos de todo o Estado resolverão o dilema da fusão, integrando as bases em que o Estado do Rio vai acelerar a industrialização e a agricultura. Não se trata de reparação da dívida histórica por tudo de que o Estado do Rio foi privado durante o período militar. É muito mais o espírito republicano que renasceu por via eleitoral.

A união política contempla igualmente as prefeituras fluminenses, com a criação de consórcios municipais, a busca por soluções conjuntas para os principais problemas de nossas cidades.

GODOFREDO PINTO é prefeito de Niterói.