Título: Disputa por cargos acentua divisões no PMDB
Autor: Adriana Vasoncelos
Fonte: O Globo, 04/12/2006, O País, p. 9

Bancada peemedebista anuncia na quarta-feira a disposição de lançar um candidato à sucessão de Aldo Rebelo

BRASÍLIA. A comemorada união do PMDB, na semana passada, em favor da participação do partido no governo de coalizão proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está camuflando as divisões internas que começam a se acentuar com a aproximação de novas disputas: pelo comando da Câmara e do Senado em fevereiro, pela presidência do partido em março e pela ocupação de cargos no governo federal. Na tentativa de mostrar que está viva e quer ter uma influência maior na mesa de negociação, a bancada peemedebista na Câmara se reúne na próxima quarta-feira para anunciar a disposição de lançar um candidato à sucessão de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) na presidência da Casa.

Sentindo-se alijada das negociações sobre a composição da nova equipe ministerial de Lula e irritada com o avanço das negociações no PT, que luta para ficar o comando da Câmara a despeito da preferência do presidente pela permanência de Aldo no cargo, a bancada do PMDB pretende, com o gesto da próxima quarta-feira, ser chamada para uma conversa no Palácio do Planalto. Caso contrário, o partido deverá definir o nome de seu candidato até o início de janeiro, reduzindo assim as chances da base governista de lançar um nome de consenso na disputa pela presidência da Câmara, com risco, inclusive, de atrapalhar a reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) no Senado, favorecendo o crescimento da candidatura do senador Agripino Maia (PFL-PE) que foi lançado na semana passada pela oposição.

Geddel nega que haja desentendimentos internos

A disputa pelo comando da Câmara também poderá ter reflexos na briga pela presidência do PMDB. Há cerca de duas semana o nome de Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), surgiu como o preferido de Lula e de uma parcela do partido para suceder o deputado Michel Temer (PMDB-SP), que durante a campanha presidencial apoiou a candidatura do tucano Geraldo Alckmin. Mas, preocupados com influência excessiva do Planalto nos rumos do partido, já há quem defenda hoje a permanência de Temer no cargo, o que poderia fortalecer a tese da candidatura própria do partido para a presidência da Câmara.

Uma conversa entre o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), um dos cotados para a sucessão de Aldo, e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), cujo nome foi lançado pelo PT para a disputa pela presidência da Câmara, teria precipitado a disposição do PMDB de entrar nessa briga. Alguns peemedebistas, como Jader Barbalho (PA) e Fernando Diniz (MG), não gostaram de saber que Geddel teria acenado com a possibilidade de o partido abrir mão da eleição pelo comando da Câmara em troca da sua nomeação para compor a equipe de Lula.

Mas Geddel nega qualquer desentendimento com os colegas de bancada:

¿ Não tem ninguém zangado com nada. Falei com o Jader e o Fernando.

Chinaglia vê legitimidade na iniciativa do PMDB

Na próxima quarta-feira, Geddel estará na reunião da bancada para apoiar o lançamento de um candidato do partido para a presidência da Câmara.

¿ Não sou candidato, mas poderei ser se a bancada me indicar e o partido tiver capacidade de conquistar o apoio de outros partidos ¿ diz.

Chinaglia considera legítimo que o PMDB manifeste sua disposição de disputar a presidência da Câmara. Na sua opinião, isso não impedirá a construção mais na frente de uma candidatura de consenso da base aliada do governo.

¿ Vejo com naturalidade a iniciativa do PMDB, que como maior bancada da Casa, tem legitimidade para reivindicar o posto. Deixei claro para o Geddel que se o PMDB tiver um candidato com o apoio da maioria da Casa, não terei qualquer problema em apoiá-lo ¿ garantiu.

O ex-ministro Eunício Oliveira (PMDB-CE), outro nome cotado para suceder Aldo, diz que ninguém hoje fala em nome da bancada, sem antes ouvi-la.

¿ A bancada falará em nome da bancada ¿ observou.