Título: Um pensamento político único
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 04/12/2006, O Mundo, p. 19

BUENOS AIRES.Com provável novo mandato pela frente, Hugo Chávez iniciará uma segunda etapa de sua revolução bolivariana, cujo principal objetivo será implementar um modelo socialista no país. Essa é a opinião do analista venezuelano Alberto Garrido, professor da Universidade Católica do estado de Zulia, escritor e colunista. ¿Chávez buscará consolidar sua revolução e para isso deverá, por exemplo, reformar a Constituição do país¿, disse ao GLOBO.

O que devem esperar os venezuelanos neste possível novo mandato de seis anos do presidente Chávez?

ALBERTO GARRIDO: Acho que não é correto falar em seis anos. O próprio presidente disse que esta segunda fase durará até 2021. Depois de uma primeira fase de transição, na qual o mais importante foi instaurar um modelo político e institucional, agora é a vez do modelo econômico.

E como seria esse novo modelo?

GARRIDO: Chávez afirmou algumas vezes que será um socialismo venezuelano, com elementos de outros países, como Cuba. Devemos esperar a socialização da educação, com mais escolas e universidades bolivarianas, e da saúde, com a ampliação do programa de saúde como ¿Barrio Adentro¿ (comandando por médicos cubanos), que deverá chegar à classe média. Também está sendo esperada a revolução agrária, além de uma reforma na Constituição.

Esse socialismo permitirá a permanência de empresas estrangeiras?

GARRIDO: Aqui na Venezuela existe um processo com intenções revolucionárias, mas é importante lembrar que Chávez é fundamentalmente pragmático. O presidente não vai expulsar empresas se não tem meios alternativos para satisfazer o mercado interno. Acredito que o governo dará mais impulso às empresas estatais e às cooperativas financiadas pelo Estado.

E reforçará o autoritarismo?

GARRIDO: Chávez disse que o líder é ele e que o modelo é o socialismo. Acho que caminhamos para um sistema político sustentado num único pensamento, o dele.

O que acontecerá com a oposição?

GARRIDO: O problema da oposição é a falta de partidos e de líderes fortes. O voto por Rosales foi um voto contra Chávez e não a favor do opositor. O futuro da oposição é incerto.