Título: Brasil é o menos competitivo dos emergentes
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 05/12/2006, Economia, p. 22

Estudo mostra que custos fiscal e operacional fazem economia nacional ficar atrás de Rússia, Índia e China

SÃO PAULO. O Brasil, empatado com o México, tem a economia menos competitiva numa lista que inclui Rússia, Índia e China ¿ os demais integrantes do grupo dos Brics, sigla criada pelo banco Goldman Sachs para denominar os quatro maiores países emergentes. De um total de 24 indicadores, que vão da taxa real de juros e da carga tributária até o funcionamento da Justiça e a transparência do governo federal, o Brasil apresenta os piores resultados em dez ¿ o dobro da China, líder dessa amostra.

Este é o principal resultado do estudo divulgado ontem pela Câmara Americana de Comércio do Brasil (Amcham) e pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC), formado por associações e empresas privadas e públicas. O ¿Painel de Competitividade 2006¿ compilou índices apurados por instituições como Banco Mundial, ONU, Transparência Internacional e o banco JP Morgan para mensurar o que batizou de pilares da competitividade: custo e disponibilidade de capital, custo fiscal e institucional e custo operacional (infra-estrutura e marco regulatório).

Investimentos estrangeiros podem diminuir, diz estudo

Quando criou a sigla Bric, o Goldman Sachs considerou que o México tinha potencial para vir um dia a fazer parte do grupo, ao lado de Brasil, Rússia, Índia e China. Daí a decisão do MBC de incluir o país em suas comparações.

O Brasil tem as piores avaliações em custo fiscal e institucional e em custo operacional. Para manter um padrão elevado de gastos públicos, a carga tributária ultrapassa os 35% do PIB, a maior entre os países estudados, o que não incentiva novos investimentos (menos de 20% do PIB, contra 38% na China) e favorece a sonegação e a informalidade ¿ que engolem mais de 40% do que é produzido todos os anos pelo país. O empresário brasileiro também é punido por uma intrincada burocracia (são 152 dias para abrir uma empresa, contra 27 no México e 28 na Rússia), e a infra-estrutura para escoamento de produtos é tida como mais ineficaz do que a da Índia.

O estudo mostra que o Brasil tem feito avanços importantes, mas insuficientes para acompanhar seus maiores concorrentes. Entre 2000 e o levantamento atual, o país teve melhora absoluta em dez indicadores, como custo de energia. Mas quando comparado aos outros quatro países, o Brasil só tem avanço relativo em leis trabalhistas e funcionamento da Justiça. Em outros 14 indicadores, o país fica para trás, como em intenção de novos investimentos diretos estrangeiros e capacitação de mão-de-obra. Isso significa que os concorrentes têm feito avanços mais rapidamente.

¿ Nosso objetivo foi identificar os principais entraves para o desenvolvimento do país ¿ disse o presidente do MBC, José Fernando Mattos.

Pelo estudo, um ambiente hostil aos negócios e a repetição de baixas taxas de variação do PIB podem provocar, a médio prazo, redução no volume de investimentos diretos estrangeiros. Em 2005, o país recebeu US$15,1 bilhões, atrás da China e do México. O MBC cita relatórios internacionais mostrando que em 2010 o Brasil poderá ficar à frente só da Índia na atração de recursos estrangeiros.