Título: Sanguessugas: Suassuna se livra até da censura verbal
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 06/12/2006, O País, p. 11

Líder do PMDB no Senado consegue punição mais leve

BRASÍLIA. Acusado pela CPI dos Sanguessugas de envolvimento com a máfia das ambulâncias, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) vai escapar até da censura verbal aprovada pelo Conselho de Ética do Senado. Semana passada, o líder do PMDB no Senado, Wellington Salgado (MG), que sucedeu a Suassuna no posto, conseguiu aprovar no colegiado apenas uma punição leve no lugar da cassação do mandato recomendada pelo relator, senador Jefferson Peres (PDT-AM).

O presidente do conselho, João Alberto (PMDB-MA), chegou a anunciar, após o resultado, que marcaria ainda para esta semana a sessão para que fosse lido o texto de censura a Suassuna, que deveria ser uma espécie de repreensão ao senador paraibano. Mas sequer haverá reunião do órgão esta semana. Funcionários da secretaria do Conselho de Ética explicaram ontem que o colegiado irá considerar o voto em separado apresentado por Wellington Salgado como o texto da censura e a sessão que aprovou pena mais branda para Suassuna como a da reprimenda.

O conselho utilizou brechas de seu regulamento para amenizar a situação de Suassuna. O artigo que trata das medidas disciplinares por quebra de decoro prevê que a censura verbal ao senador será aplicada pelo presidente do Senado, do Conselho de Ética ou até mesmo por um presidente de comissão. Os assessores explicaram ainda que, quando ocorrer nova reunião do órgão, a ata da sessão que aprovou censura será aprovada junto com o voto do senador Wellington, que será publicado no Diário do Senado.

Deputada da dança da pizza sofreu censura verbal

O Congresso prevê medidas distintas no momento de aplicar censura verbal para senador e para deputado. No escândalo do mensalão, a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) sofreu censura verbal do Conselho de Ética da Câmara por ter dançado no plenário após a absolvição de seu colega João Magno (PT-MG), um dos parlamentares acusados no mensalão. Foi elaborado um texto de censura, lido em plenário pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Relator que pediu a cassação de Suassuna, Jefferson Peres reagiu à decisão do conselho de amenizar ainda mais a situação de seu colega:

¿ Estou cansado de tudo isso. Faço a minha parte. A maioria faça o que bem entender ¿ disse Peres.

Em seu voto separado, Wellington Salgado afirma que o julgamento de seu aliado Suassuna foi cercado de pressão política e que não ficou provado seu envolvimento com o esquema dos sanguessugas. O senador de Minas diz que Suassuna apenas deixou de observar deveres e preceitos inerentes ao mandato ao ¿descuidar¿ do controle de seus assessores. Um deles recebeu dinheiro do dono da Planam, Luiz Antônio Vedoin, em sua conta. Em sua defesa, Suassuna argumenta que no seu relatório Peres diz não haver provas do seu envolvimento com o esquema de venda de ambulâncias superfaturadas.