Título: Passageiros culpam governo federal e companhias aéreas por novo caos
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 06/12/2006, Economia, p. 27

Indignados e irritados, usuários classificam autoridades de irresponsáveis

BRASÍLIA, SÃO PAULO e BELO HORIZONTE. A indignação dos passageiros nesta terceira onda de atrasos de vôos em todo o país teve como alvos centrais o governo federal e as empresas aéreas ¿ mais do que os controladores, que atraíram a fúria dos consumidores no mês passado. Classificando como uma vergonha nacional a paralisação do sistema de tráfego aéreo e os sucessivos cancelamentos, passageiros no Aeroporto de Brasília acusaram o governo de irresponsabilidade e as companhias, de descaso e sadismo na condução da situação de emergência.

¿ Embarquei pouco antes das 11h e fiquei duas horas, quando nos mandaram descer, sem explicação. Ficamos então no embarque, horas, para receber a informação de que o vôo 1974 (Gol) para o Acre havia sido cancelado por alguns problemas ¿ disse Adeíldo Siqueira, de 21 anos, que trabalha com o movimento indígena.

O breve resumo do dia infernal de Adeíldo ¿ que, na melhor das hipóteses, só terá fim 26 horas depois de começado, pois ele não conseguia remarcar seu vôo ¿ expõe o fracasso das articulações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e das companhias aéreas na tentativa de se antecipar a novas ocorrências desse tipo no setor aéreo, criando gabinetes de crise nos aeroportos.

Os gabinetes ¿ anunciados há 15 dias ¿ centralizariam informações sobre os vôos, como previsões de pouso, decolagem e atrasos. Ontem, porém, só houve o esboço de organização e repasse sistemático de informações quando os passageiros do vôo 1974 ¿ atendidos até então por uma única funcionária ¿ chamaram a polícia para tentar impor ordem.

¿ Além de não me deixarem fazer o check-in para o meu vôo, os atendentes falam conosco sadicamente ¿ criticou o consultor Manuel da Costa Pereira, que enfrentou atraso de duas horas e meia na vinda de São Paulo para Brasília e teve o vôo 3563 da TAM, de volta à capital paulista, cancelado.

Sobraram críticas ao governo de quem se amontoava no aeroporto de Brasília:

¿ A situação no Brasil está bem precária. Não dá para entender a falta de atitude ¿ afirmou Adeíldo.

¿ É uma vergonha nacional. Vou e volto de Brasília mais de uma vez por semana e nunca vi nada igual ¿ disse Pereira.

No Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins (MG), alguns passageiros esperaram mais de cinco horas por uma decisão sobre os vôos.

¿ O aeroporto está parado ¿ desabafou Tereza Batista, que ia de Belo Horizonte para Curitiba, e esperou pelo menos quatro horas.

Em Congonhas, apesar dos longos atrasos, as empresas foram rigorosas com quem perdeu o horário:

¿ Perdi meu vôo que sairia às 7h de Cumbica porque cheguei às 7h20m. Disseram-me que teria de comprar outro (bilhete), mesmo sabendo que o avião ainda estava no aeroporto ¿ disse a psicóloga Mazilene Leite, que desembolsou mais R$1.596 com outras passagens.

COLABORARAM Thais Pimentel, da CBN, e Fabrício Calado Moreira, do ¿Diário de S. Paulo¿