Título: No Rio, confusão e muitas horas de espera
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 06/12/2006, Economia, p. 27

Funcionários de companhias aéreas dizem que houve operação-padrão, e passageiros brigam para pegar malas de volta

O caos tomou conta do aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim ontem. Vários vôos atrasaram, deixando os passageiros em longas filas de espera. Oficialmente, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), dos 103 vôos previstos partindo do aeroporto do Rio até as 19h, 20 saíram com atraso de mais de uma hora e um foi cancelado. Mas o que se viu ontem no aeroporto foram horas de espera durante todo o dia.

O casal Alexandre Mallmann e Tatiane Ramos, donos de uma agência de viagens em Porto Alegre, sentiu na pele o que têm passado muitos de seus clientes. Após uma espera de oito horas pelo embarque para Porto Alegre, eles desistiram de tentar viajar por causa da filha Maria Eduarda, de apenas seis anos.

¿ Quero embarcar, mas agora o mais importante é levar minha filha para tomar um banho e descansar ¿ desabafou Mallmann.

Tatiana, indignada, reclamava da oferta da funcionária da companhia aérea, a Gol, para que a família, cujo vôo estava programado inicialmente para as 15h25m, embarcasse em outro por volta das 3h de hoje:

¿ Quero uma garantia de embarque. Não vou entrar em uma sala de espera com minha filha e depois não conseguir viajar. Teve gente que chegou a entrar no avião e depois saiu.

Após muita discussão, a família obteve da empresa vouchers para um hotel, e a promessa de que viajariam hoje, às 9h50m.

A falta de informações sobre o que acontecia por trás do balcão levou muitos passageiros a desistirem de brigar pelo embarque. No entanto, até para ir embora para casa era preciso discutir e enfrentar uma longa espera ¿ só que para receber de volta a bagagem já despachada.

¿ Estou há mais de quatro horas tentando pegar minhas malas de volta. Vou deixar para viajar outro dia, mas quero ir para casa com minhas roupas ¿ reclamava a baiana Luciana Laranjeiras, que mora no Rio.

A falta de informações concretas sobre o motivo dos atrasos e cancelamentos dos vôos era o que mais irritava os passageiros. No local, funcionários das companhias aéreas atribuíam a demora à operação-padrão dos controladores de vôo. No painel de informações sobre a situação dos vôos, uma novidade: a frase ¿Atrasos por condições técnicas¿.

Helena Carvalheiro, de 85 anos, chegou ao aeroporto às 13h30m para pegar um vôo às 14h55 para Porto Alegre. Mas, às 20h30m ainda não havia obtido informação sobre se o vôo sairia ou não:

¿ Já saiu até vôo de 18h, mas para o meu não há previsão, nem consigo informaçôes. Não recebi sequer um vale-refeição.

Quando tentava deter um funcionário para perguntar quando conseguiria embarcar, Helena só recebi desculpas. Carolina Fernandes, que pretendia embarcar no mesmo vôo, acabou ficando ao lado de Helena para não deixá-la desamparada no meio da confusão. Ela reclamava dos prejuízos que terá com o atraso:

¿ Estou viajando para fazer uma prova da Aeronáutica, ou seja, preciso chegar lá.

Os passageiros do vôo da TAM que partiria às 10h45 do Tom Jobim para Brasília ficaram mais de quatro horas aguardando dentro da aeronave ¿ que chegou a taxiar na pista antes de retornar para desembarcá-los. Entre eles, estavam diversos parlamentares.

O que mais havia no aeroporto eram filas. Na que permitia desistir da viagem e remarcá-la para outro dia, havia mais de cem pessoas. O executivo Eduardo Fernandes de Azevedo reclamava da falta de solução para o problema:

¿ Já não é mais possível trabalhar neste país, porque você não consegue chegar ao local dos compromisso a tempo. Os negócios não esperam por você. Os prejuízos são incalculáveis.