Título: Ipea prevê crescimento menor este ano: 2,8%
Autor: Rodrigues, Luciana e Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 06/12/2006, Economia, p. 31

Instituto estima que, em 2007, PIB avançará 3,6%, bem abaixo dos 5% de Lula. Meta ficaria para a próxima década

RIO e UBERLÂNDIA. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, reduziu pela segunda vez sua projeção para o crescimento da economia brasileira este ano. Depois de o IBGE ter divulgado, na semana passada, que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) cresceu só 0,5% no trimestre passado, o Ipea agora prevê uma expansão de apenas 2,8% para o acumulado do ano. Para 2007, a estimativa é de um crescimento de 3,6%.

Na avaliação do instituto, a almejada taxa de 5%, que o presidente Lula disse perseguir, poderá ser alcançada, porém no início da próxima década ¿ ou seja, a partir de 2011. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já reconheceu que, este ano, o país deverá crescer menos de 3%. Mas Mantega mantém, até agora, sua convicção de que é possível chegar aos 5% já em 2007. Para o diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, Paulo Levy, não é esse o cenário:

¿ Não estamos enxergando essa perspectiva no momento. Se o investimento acelerar, de maneira consistente, é possível atingir essa taxa de 5% até o início da próxima década.

Consumo das famílias bate recorde, mas `oferta é crítica¿

Em 2007, o Ipea acredita que o crescimento virá, principalmente, graças ao consumo privado e aos investimentos. Segundo Levy, os gastos da família devem crescer 5,2%, na maior alta desde o início do Plano Real:

¿ No consumo, percebe-se o bem-estar da sociedade. O Brasil não tem problema de demanda. A questão crítica é criar os estímulos para aumentar a oferta.

Levy acrescentou que, com a queda do dólar, apareceram problemas de competitividade antes encobertos. Ele citou a carga tributária elevada, as fragilidades de infra-estrutura nas áreas de energia e transportes e, ainda, a regulação excessiva do mercado de trabalho. Levy criticou a avaliação de que o câmbio é o maior entrave à expansão da economia:

¿ Querer resolver pelo câmbio significa baixar a renda real da população (cairia o poder de compra do consumidor).

O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, também vê na oferta de energia um gargalo ao crescimento de 5% do PIB. Segundo Agnelli, a burocracia exigida para o desenvolvimento de um projeto e as dificuldades impostas pelos órgãos ambientais são os principais obstáculos. A oferta de energia, assim, acaba se tornando muito cara, quadro agravado pela elevada carga tributária.

¿ O mundo inteiro está preocupado com a energia para daqui a 30 anos, e nós estamos preocupados para daqui a cinco, seis anos ¿ disse Agnelli, após a inauguração do complexo hidrelétrico Campim Branco, no Triângulo Mineiro.

Se o cenário para crescimento econômico não é tão favorável, a estabilidade parece garantida: o Ipea prevê que, em 2007, a inflação fique em 4,3%, abaixo do centro da meta do governo como em 2006.

(*) A repórter viajou a Uberlândia a convite da Vale do Rio Doce