Título: Crise com jeito de Guerra Fria com jeito de Guerra Fria
Autor:
Fonte: O Globo, 06/12/2006, O Mundo, p. 35

Insinuações britânicas de que a Rússia estaria por trás da morte de ex-espião irritam o Kremlin

LONDRES e MOSCOU

Oepisódio cada vez mais lembra os tempos da Guerra Fria. A morte do ex-espião russo Alexander Litvinenko em 23 de novembro, após ser contaminado em Londres com uma alta dose de polônio 210, uma substância radioativa, fez com que a tensão entre a Rússia e o Reino Unido aumentasse ontem. Segundo o jornal inglês ¿The Times¿, os serviços secretos do Reino Unido estão convencidos de que o envenenamento foi autorizado pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, a antiga KGB). Irritada com as acusações, a Rússia declarou que se recusará a extraditar suspeitos pela morte do ex-espião e não permitirá que agentes da polícia britânica que estão em Moscou interroguem ex-espiões considerados peças-chave para desvendar o caso.

Segundo o ¿The Times¿, que afirma ter entrevistado fontes dos serviços secretos, o FSB orquestrou um ¿complô altamente sofisticado¿ e é possível que alguns de seus ex-agentes tenham envenenado pessoalmente Litvinenko em Londres. ¿Sabemos como o FSB opera no exterior e, considerando as circunstâncias da morte de Litvinenko, o serviço de inteligência tem que ser o primeiro suspeito¿, disse uma fonte de inteligência ao jornal inglês.

A participação de ex-agentes do serviço secreto russo, segundo a reportagem, teria tornado mais fácil atrair o ex-espião para reuniões em alguns locais de Londres, evitando que o Kremlin fosse implicado diretamente na trama. Além disso, os investigadores britânicos acreditam que apenas agentes do FSB poderiam obter uma quantidade considerável de polônio 210. Antes de morrer, Litvinenko assinou uma carta na qual acusa o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de estar por trás de seu envenenamento.

Moscou: relações podem ficar estremecidas

Em reação às denúncias, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, declarou ontem que as relações entre Londres e Moscou podem sofrer ¿grandes perdas¿ com o episódio e a Procuradoria Geral russa avisou que qualquer pedido de extradição de ex-espiões para o Reino Unido será negado.

¿ Se eles quiserem prendê-los, será impossível, pois são cidadãos russos e a Constituição russa não permite ¿ afirmou o procurador-geral, Yuri Chaika.

O Kremlin também divulgou que não permitirá que agentes britânicos interroguem os ex-agentes da KGB Andrei Lugovoi, que se encontrou com Litvinenko em Londres em 1º de novembro, quando este passou mal, e Mikhail Trepashkin, que está preso em Moscou e, segundo fontes, teria mais informações sobre a operação.

No dia 1º de novembro, quando foi internado, Litvinenko se reuniu com três russos em um hotel de Londres. Em seguida, encontrou-se com Mario Scaramella, um contato italiano, em um restaurante japonês. Scaramella está hospitalizado em Londres, depois que exames para detectar sinais de radioatividade deram positivo. Ontem, divulgou-se que o estádio do Arsenal também apresentou sinais de contaminação.