Título: Transmissão proibida custa cargo a ministro
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Fonte: O Globo, 06/12/2006, O Mundo, p. 38

Boca-de-urna foi divulgada antes da hora

CARACAS. O ministro da Comunicação e da Informação da Venezuela, William Lara, foi demitido na noite de segunda-feira, tornando-se o que fontes do Palácio Miraflores chamaram de ¿o único chavista que não comemorou¿ a vitória de Chávez. A demissão ocorreu na mesma noite em que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que abrira uma investigação contra o canal Telesur, que pertence aos governos de alguns países sul-americanos, mas é majoritariamente do Estado venezuelano.

O canal anunciou publicamente uma pesquisa de boca-de-urna antes que o CNE divulgasse o primeiro boletim com resultados. A ação foi muito criticada no país, pois o tribunal chegou a ameaçar os meios de comunicação privados ¿ com os quais Chávez trava uma queda de braço desde o início de seu governo ¿ de tirá-los do ar, caso divulgassem pesquisas antes dos dados oficiais. Segundo informações de pessoas próximas ao governo, a divulgação dos dados antecipados foi a ¿única mancha¿ do processo eleitoral.

Outra versão afirma que o ministro Lara teria sido ele próprio surpreendido pela pesquisa divulgada pela Telesur, numa decisão que poderia ter sido tomada pelo presidente da emissora, Andrés Izarra, sem seu consentimento. Izarra é um dos antecessores de Lara no ministério e alguns funcionários do governo afirmam que muitas vezes o presidente da Telesur se dirige diretamente a Chávez para tirar dúvidas sobre o que deve entrar na programação. Agora, o próprio Izarra é motivo de investigação do CNE, podendo ser multado e, talvez, demitido.

A missão de observadores da União Européia (UE) afirmou que o processo eleitoral foi condizente com os parâmetros internacionais. A UE elogiou o sistema de máquinas de captação de votos e transmissão de dados, mas criticou o desequilíbrio na cobertura das eleições por parte dos meios de comunicação particulares, a favor da oposição, e do Estado, a favor do presidente. Além disso, criticou o sistema eletrônico que capta impressões digitais de eleitores, dizendo ser potencialmente intimidador. A propaganda institucional a favor do governo e a participação de membros do governo na campanha também foram criticadas.