Título: Chávez se diz disposto a dialogar com os EUA
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Fonte: O Globo, 06/12/2006, O Mundo, p. 38

Presidente reeleito, no entanto, impõe condições e diz duvidar de sinceridade dos americanos: `Não somos colônia'

CARACAS. Depois de ser proclamado oficialmente o presidente reeleito da Venezuela, numa cerimônia ocorrida ontem na sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de Caracas, Hugo Chávez disse estar disposto a conversar com os EUA. Mas logo fez ressalvas, declarando que duvida das intenções do governo americano de aproximação entre os países.

¿ Se eles querem conversar com um governo de igual para igual, com respeito a nossas posições, estamos dispostos. Mas eu duvido que o governo dos Estados Unidos seja sincero. Tenho razões bastante fortes para duvidar ¿ disse Chávez, durante uma entrevista coletiva no Palácio Miraflores.

Segundo o presidente, eleito com quase sete milhões de votos (62,57%) ¿ na maior votação já obtida por um líder venezuelano ¿ ¿a Venezuela não é, nem nunca foi, uma colônia americana¿.

¿ Como vamos ter relações com um governo que financiou aqui atividades conspiradoras, que financiou atividades ilegais e espionagem? ¿ indagou Chávez, que acusa os EUA de estarem por trás dos ¿movimentos desestabilizadores¿ que sacudiram a Venezuela entre 2001 e 2003, incluindo o golpe que sofreu, no qual foi afastado por dois dias do poder, em 2002.

Fidel felicita Chávez e Ortega visita Caracas

Os EUA negam as acusações. Na segunda-feira, um dia depois da eleição de Chávez, o presidente George W. Bush enviou uma mensagem ao povo da Venezuela , felicitando-o e dizendo ¿esperar ter uma relação construtiva e positiva com o governo¿. No dia da votação que consagrou Chávez nas urnas, o líder venezuelano e o subsecretário de Estado para as Américas dos EUA, Thomas Shannon, trocaram mensagens moderadas. Shannon disse que a Venezuela ¿funciona como uma democracia¿, e Chávez disse que via como ¿bons sinais¿ as declarações do americano.

Ao duvidar, ontem, da intenção americana de dialogar, Chávez precisou que uma conversa aberta e em condições de igualdade com Washington deve incluir temas como ¿respeito à dignidade e às decisões não só da Venezuela como de todos os povos da América Latina¿, assim como ¿a retirada das tropas americanas do Iraque¿.

Apesar de serem parceiros comerciais estratégicos (os EUA são o maior comprador de petróleo da Venezuela), os dois países têm uma relação marcada por trocas de acusações.

Um dos grandes aliados de Chávez, o líder convalescente cubano Fidel Castro enviou ontem uma mensagem ao presidente venezuelano, publicada no jornal ¿Granma¿. ¿Sua vitória foi conclusiva, arrebatadora e sem paralelos na história de nossas Américas¿, disse Fidel, cuja última aparição ocorreu num vídeo divulgado em 28 de outubro.

Um dos maiores desafetos de Chávez, o presidente peruano Alan García, também felicitou ontem o venezuelano pela vitória e disse que ¿manterá uma relação de Estado para Estado¿ com o país. O chanceler peruano, José Antonio García Belaúnde, havia declarado, no domingo, que García não felicitaria Chávez, porque não recebeu nenhuma mensagem similar quando foi eleito, em junho.

Hugo Chávez recebeu ainda a visita do líder sandinista Daniel Ortega, recém-eleito presidente da Nicarágua, que chegou ontem a Caracas para parabenizar pessoalmente o presidente por sua vitória.

Chávez inicia hoje uma viagem a Brasil, Argentina e Uruguai. Na pauta, discussões relacionadas ao Mercosul.

¿ Vou trabalhar, trabalhar, trabalhar ¿ disse.