Título: Uma história que se repete
Autor: Rocha, Carla , Vasconcellos, Fábio e Ernesto, Luiz
Fonte: O Globo, 07/12/2006, Rio, p. 17

Garotinho teria deixado contas para Benedita pagar

A atual sucessão no governo lembra um outro momento do estado, quando os protagonistas eram Anthony Garotinho e Benedita da Silva. Decidido a concorrer à presidência da República, em 2002, Garotinho passou o cargo de governador do estado à sua vice, Benedita da Silva, com quem havia rompido. A substituição, no entanto, ocorreu em meio a um tiroteio de números de ambos os lados.

A equipe de Benedita acusou Garotinho de deixar um déficit nas contas do estado próximo de R$1 bilhão. Garotinho, por sua vez, afirmava ter deixado o governo com R$500 milhões em caixa. O ex-governador dizia ainda que a situação financeira do estado era equilibrada.

Um levantamento feito pelo GLOBO, na época, mostrou que Garotinho acelerou os gastos do primeiros três meses de 2002, deixando para sua sucessora poucos recursos para serem usados. Em março daquele ano, R$1,1 bilhão do orçamento ¿ 1.617% a mais do que no primeiro trimestre do ano anterior ¿ já haviam sido remanejados. O PT dizia que o governador havia comprometido R$20,2 bilhões em folha de pagamentos, obras e dívida antes mesmo de deixar o governo.

A luta política entre Benedita e Garotinho chegou a outras áreas do governo. Uma inspeção feita na Superintendência de Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho, pela Comissão Especial de Saúde da Assembléia Legislativa (Alerj), constatou que, de janeiro a 22 de março de 2002, 11.420 pessoas foram chamadas para fazer exames médicos, a fim de serem admitidas ou nomeadas. No mesmo período de 2001, foram realizadas 330 perícias para a admissão de servidores concursados e a nomeação para cargos de confiança.

O Tribunal de Contas do Estado (TCE), numa decisão inédita no Rio, reprovou as contas de Benedita e Anthony Garotinho. No início de 2003, o tribunal já havia detectado o déficit real do caixa do estado: R$1,8 bilhão. De acordo com o documento, Garotinho e Benedita deixaram de aplicar em educação e saúde os percentuais mínimos constitucionais. Mesmo com parecer contrário do TCE, a Alerj aprovou as contas dos dois governadores em 2003.