Título: Atrasos de vôos devem continuar até domingo
Autor: Camarotti, Gerson e Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 07/12/2006, Economia, p. 35

Diretora da Anac afirma que não pode garantir que o sistema vai voltar à normalidade nos próximos dias

BRASÍLIA, SÃO PAULO, RIO e BELO HORIZONTE. Os problemas nos aeroportos devem continuar no Brasil. Esta avaliação é um consenso nos órgãos que cuidam da aviação civil. Segundo uma fonte da Infraero que preferiu não se identificar, os respingos dos problemas da queda do sistema de comunicação entre aviões e torres de controle na terça-feira ¿ que causaram o fechamento dos aeroportos do Sudeste e do Centro-Oeste por três horas ¿ serão sentidos até domingo. O dia ontem também marcou novas incoerências nas informações sobre o caos nos aeroportos.

A diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu afirmou no fim da tarde de ontem que não pode garantir que o sistema aéreo voltará à normalidade nos próximos dias.

¿ Eu não sei. Pergunte ao Departamento de Controle de Espaço Aéreo ¿ disse Denise.

Mais cedo, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, minimizou o problema e disse que a situação do tráfego aéreo só deverá se normalizar amanhã e que os transtornos de ontem nos aeroportos do país são conseqüência da pane de comunicação na terça-feira no Cindacta 1, de Brasília.

O Comando da Aeronáutica informou que todos os sistemas de tráfego aéreo operaram normalmente e em capacidade máxima ontem. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, não há qualquer problema na radiofreqüência, nos radares nem com pessoal. Os atrasos ainda seriam respingos de terça-feira, o pior dia para o tráfego aéreo no Brasil.

Filas nas companhias aéreas chegaram a seis horas

Oficialmente, os números não batem: ontem os problemas afetaram apenas 37% dos vôos, com atrasos superiores a uma hora ou com cancelamentos; na terça-feira, dia do pior atraso de vôos da história da aviação civil Brasileira, somente três vôos foram cancelados em Brasília, segundo a Anac. Esse número não condiz com a realidade: a própria Anac reconheceu estes últimos dois dias como os piores, embora, oficialmente, o número de atrasos e cancelamentos são inferiores aos registrados no início de novembro, quando 45% dos vôos atrasaram.

¿ Às vezes, os números não são muito claros; mudamos alguns procedimentos por causa da crise. Mundialmente demoras de 30 minutos já são considerados atrasos; com a crise, ampliamos este espaço de tempo para uma hora ¿ afirmou a diretora da Anac.

Ao chegar ao Ministério da Defesa no início da noite, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, negou que tenha havido uma nova pane no sistema de comunicação aérea do país. Ele disse que houve uma pane no sistema de satélites da Embratel por dez segundos, mas que isso não causou transtorno.

¿ Tivemos uma chuvarada em São Paulo, mas o sistema está operando bem, sem nenhuma pane. Houve uma pane de satélite da Embratel de dez segundos, mas não no sistema somente nosso¿ disse.

Os aeroportos sentiram ontem os reflexos de terça-feira. No Rio, o Aeroporto Internacional Tom Jobim viveu ontem um de seus piores dias desde o início da crise aérea, em outubro. Foram 35 vôos atrasados (37% dos 94 programados) e três cancelamentos. Os vôos tiveram atrasos de até 15 horas. Pela manhã, todas as chegadas e partidas tiveram algum tipo de atraso. O tempo de espera nas filas das companhias aéreas chegou a seis horas. Só no check-in da TAM, o atendimento levou, em média, seis horas.

Os aeroportos de São Paulo também tiveram ontem mais um dia de caos. Até as 17h, Congonhas registrava 63 vôos com atrasos superiores a uma hora e oito cancelamentos. No mesmo período, Cumbica registrou 48 atrasos e 11 cancelamentos. Ao todo, os dois aeroportos tiveram 318 pousos e decolagens até 17h.

Falta de tripulação também afetou vôos em BH

No Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, pelo menos 14 vôos foram cancelados e 37 sofreram atrasos, em média de quatro horas. O maior atraso foi do vôo 3387, da TAM, com previsão de embarque para São Luís, às 22h50m de terça-feira, mas que só deixou a pista do Aeroporto de Confins ontem às 11h. Os destinos mais prejudicados foram Rio, São Paulo, Brasília, Salvador e Fortaleza.

A falta de tripulação também aumentou o número de atrasos. Pilotos e co-pilotos que deveriam ter pousado na terça-feira à noite em Confins e embarcado ontem de manhã no comando de outros aviões, não puderam fazer esse procedimento porque só desembarcaram durante a madrugada. Eles foram para o descanso obrigatório e só começaram a retornar a Confins à tarde.

Rodrigo Grilo, advogado do Sindicato dos Aeroviários, que tinha audiência marcada em São Paulo para ontem à tarde, perdeu o compromisso. Ele lembrou que muito se fala sobre o estresse dos controladores de vôo, mas frisou que as pessoas se esquecem que o pessoal de terra também sofre, sendo alvo da ira de passageiros prejudicados com os atrasos e cancelamentos:

¿ Alguns clientes das companhias aéreas até partem para a agressão, verbal e física, contra os aeroviários, que na verdade, estão simplesmente passando as poucas informações que têm, já que eles sequer são informados da real situação. Eles ficam completamente vendidos e isso vai gerando um desgaste emocional sem limites ¿ afirmou.