Título: Aeronáutica investiga possível falha plantada
Autor: Alvarez, Regina e Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 07/12/2006, Economia, p. 40

Segundo fontes, alteração teria sido feita há algum tempo, por profissionais com acesso ao equipamento

BRASÍLIA. Nas investigações do Comando da Aeronáutica para identificar as causas da pane que paralisou o sistema aéreo brasileiro, na última terça-feira, uma das hipóteses consideradas é que a falha na Central de Áudio Digital do Cindacta 1 teria sido plantada por profissionais com acesso ao equipamento. A alteração no equipamento não teria sido feita anteontem, e sim há algum tempo, de forma a evoluir progressivamente para a pane geral no sistema. Os controladores de vôo vivem uma queda-de-braço explícita com o Comando da Aeronáutica desde a operação-padrão desencadeada em outubro.

As autoridades da Aeronáutica não querem apontar culpados, mas, reservadamente, também não isentam completamente de responsabilidade os controladores.

¿ Não vamos acusar, mas também não somos ingênuos para descartar completamente essa hipótese ¿ disse uma fonte graduada da Aeronáutica, que prefere não ser identificada.

Companhias afirmam ter estrutura de reserva

Segundo um especialista que acompanha as investigações, a falha no equipamento não foi trivial e, se provocada, envolveu uma operação sofisticada e provavelmente realizada bem antes da pane no sistema.

¿ Não foi uma operação grosseira ¿ observou a fonte.

Já as companhias aéreas negam a possibilidade de sabotagem na queda do sistema e também não aceitam assumir a responsabilidade pelos atrasos e cancelamentos de ontem ¿ embora, na visão do Comando da Aeronáutica, ela sejam as principais responsáveis pelos problemas de quarta-feira.

¿ Ontem (terça-feira), falaram que foi sabotagem dos controladores. É mentira. Hoje afirmam que as empresas não têm estrutura para atender a seus clientes. Também é mentira. Não há possibilidade de isso acontecer. Cada avião tem duas tripulações, uma é de reserva. Nós temos estrutura, inclusive, de apoio. O governo é que não tem ¿ disse o vice-presidente do Sindicato Nacional de Empresas Aéreas (Snea), Anchieta Hélcias.

Para ele, a pane no setor aéreo revelou que o sistema de tráfego aéreo não tem um mecanismo reserva de comunicação por rádio eficiente. Embora existam freqüências consideradas de ¿reserva¿, elas são controladas pelo mesmo sistema. É como se um coração tivesse duas rotas de distribuição de sangue pelo corpo. Há uma rota de segurança, mas o coração é um só.

Este foi o problema de terça-feira: caiu o primeiro sistema, com sete freqüências, durante a manhã e, por segurança, as decolagens de Brasília foram canceladas por 15 minutos. Quando o sistema parecia que ia se normalizar e operar a plena carga, com 20 freqüências, houve nova pane, desativando primeiro as sete ¿titulares¿ e depois, uma a uma, as 13 ¿reservas¿.

Hélcias afirmou que há cinco anos o sindicato vinha alertando o governo para o risco de panes nos equipamentos.

¿ É um absurdo. É revoltante. O setor está vivendo hoje os problemas que já foram avisados pelo sindicato desde 2001. Hoje percebemos que não faltam apenas controladores, mas também manutenção nos equipamentos ¿ disse o vice-presidente do Snea.

Para Anac, Brasil está melhor que em 2000

Já o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, negou problemas com equipamentos:

¿ O Brasil não está com equipamentos defasados em relação ao próprio Brasil. Se comparar o Brasil de hoje com o de cinco anos atrás, o Brasil está muito melhor. Se falamos de ponto cego, hoje, como seria em 2000, em 1990? O Brasil hoje é um país coberto por equipamentos de última geração ¿ afirmou.

Hélcias desconfia desses equipamentos. Segundo ele, o sistema pode ter seis anos e, mesmo assim, ser malconservado ou obsoleto.

¿ Temos de lembrar que a cada seis meses há inovações tecnológicas nessa área e que são necessárias constantes atualizações e boa manutenção ¿ disse.