Título: Crescimento traz mais vagas, revela estudo de economista do BNDES
Autor: Duarte, Patrício
Fonte: O Globo, 07/12/2006, Economia, p. 41

Abertura de postos de trabalho reage na comparação com avanço do PIB

O mercado de trabalho brasileiro está em franca recuperação, depois de uma década de desestruturação. É o que mostra estudo inédito que o economista do BNDES Antonio Prado vai lançar hoje, na série ¿Visões do Desenvolvimento¿. Renda, aumento das vagas formais, tempo de procura por trabalho, permanência no emprego e mais poder de barganha dos sindicatos são os indicadores listados por Prado.

Ele usou a proporção da abertura de vagas frente ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país). Nos anos 80, para cada ponto percentual de expansão da economia, houve 1,2 ponto de alta na ocupação. Ou seja, se o PIB cresceu 1%, o emprego avançou 1,2%. Esse percentual caiu drasticamente entre 1993 e 1997, atingindo 0,3%. De 1999 a 2005, voltou a crescer e atingiu 0,7%.

¿ Quanto menor for esse índice, maior terá de ser o crescimento da economia para o desemprego baixar ¿ diz Prado.

Com uma taxa de 0,2%, por exemplo, o PIB precisaria crescer 8,76% para absorver a entrada de trabalhadores no mercado, em torno de 2,6%.

Segundo o estudo, que usou dados do Dieese, a taxa de desemprego em São Paulo, que chegou a 6,7% em 1989, pulou para 17,4% em 1998. Hoje está em 14,6%. O mesmo aconteceu com vários indicadores. Há melhora frente a 1998 e 2002, mas ainda há distância em relação à década de 1980. O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo de Ávila lembra que a crise de 2003 abalou muito o mercado.

Para Ávila, o rendimento vai continuar reagindo. Com o crescimento do emprego com carteira assinada, diz, a tendência é o salário continuar em alta, devido à inflação baixa. Prado, do BNDES, espera queda maior do desemprego. Usando a previsão do governo de alta de 5% do PIB, a ocupação avançaria em 3,5%.

¿ Não há dúvida que a regressão na qualidade do mercado de trabalho que caracterizou os anos 90 chegou ao fim. Mas há muito o que fazer ¿ diz Prado. ¿ A recuperação do poder aquisitivo dos salários está apenas no início. Inflação baixa, investimento e juros mais baixos manterão essa recuperação.

É o que espera o motoboy Jorge Luis Mello dos Santos. Sem carteira assinada, trabalha como autônomo e reclama da falta de respeito das empresas:

¿ Eles cortam os benefícios, não pagam a gasolina nem o seguro de vida.