Título: Emprego e renda avançam na América Latina
Autor: Duarte, Patrício
Fonte: O Globo, 07/12/2006, Economia, p. 41

Organização Internacional do Trabalho destaca aumento do salário mínimo na região, mas alerta para precariedade

BRASÍLIA. O melhor desempenho econômico da América Latina este ano trouxe bons resultados para o mercado de trabalho, apesar de persistirem importantes focos de desigualdade. Levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado ontem mostra que o salário mínimo real cresceu, em média, 4,7% na região nos três primeiros trimestres de 2006, frente a igual período de 2005. O controle da inflação foi a principal razão desta recuperação. Já o salário na indústria teve expansão de 3,9% no período, na esteira da maior produtividade do setor.

¿ Desde que começamos a publicar esse levantamento, somente em 2005 tínhamos visto bons resultados. Isso é importante e mostra que estamos melhorando os indicadores, apesar de muito ainda precisar ser feito ¿ afirmou a diretora do escritório brasileiro da OIT, Laís Abramo, lembrando que os países analisados representam cerca de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) da região.

Outro indicador importante, ressalta, é a taxa de desempego urbano, que passou de 9,5% para 9% no período. Isso significa que há 17,5 milhões de pessoas sem emprego na região, 600 mil a menos que em 2005. De modo geral, a OIT aponta fatores de ordem econômica para o melhor desempenho, ¿inédito em anos recentes, caracterizados pela volatilidade do crescimento e a presença de crises cíclicas¿.

Impacto positivo do preço das `commodities¿

O resultado se deve principalmente ao aumento da demanda externa, sobretudo dos Estados Unidos e da China, que trouxe impacto positivo aos preços das commodities da região, e também à política econômica e monetária adotada em boa parte da América Latina, com juros em queda e maiores gastos públicos. O controle da inflação também é ressaltado no documento, bem como a questão fiscal. A continuidade esperada desse cenário levou a OIT a projetar recuo da taxa de desemprego urbano em 2007 para 8,8%.

O Brasil, apesar de ter feito o dever de casa, não seguiu o desempenho da região em todos os quesitos. Sua taxa de desemprego urbano subiu de 10% para 10,2%, única alta na região. No entanto, Laís argumenta que isso ocorreu porque existem mais brasileiros procurando emprego, com a melhora da economia, o que acaba inflando a População Economicamente Ativa (PEA). Além disso, a pesquisa somente mostra indicadores de seis regiões metropolitanas do país, e já foi percebido nos últimos meses que o nível de emprego cresceu mais no interior.

A melhor performance ficou com a Venezuela, que registrou taxa de desemprego de 10,4% neste ano, 2,5 pontos percentuais a menos que no mesmo intervalo de tempo de 2005. A Argentina também diminuiu seu índice, de 12,1% para 10,7%, enquanto no México o recuo foi de 4,9% para 4,6%. Na questão de salário mínimo real, por outro lado, o Brasil aparece como um dos que mais tiveram aumento (13%), perdendo apenas para o Uruguai (17,2%) no período.

Apesar dos bons resultados, a OIT mantém o alerta sobre a ainda pequena participação do chamado ¿emprego decente¿. Ou seja, com remuneração adequada e bons níveis de proteção social e de trabalho.