Título: Menos guerra, mais diplomacia
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 07/12/2006, O Mundo, p. 44

Comissão aconselha retirada de forças de combate americanas do Iraque até 2008

A menos que o governo dos Estados Unidos mude a sua estratégia a curto prazo, passando a usar mais as palavras e negociações pacíficas e menos os mísseis, o Iraque ¿vai deslizar para o caos¿, com o risco de um colapso total de seu governo e a explosão de uma catástrofe humanitária. E se não mudar totalmente o atual curso de sua política naquele país, os Estados Unidos propiciarão o aumento da limpeza étnica, acabando por provocar uma guerra regional de consequências ainda mais desastrosas que a situação atual. É o que diz, em síntese, o informe que o Grupo de Estudo sobre o Iraque entregou ontem ao presidente George W. Bush e ao Congresso dos Estados Unidos.

¿O povo iraquiano poderia acabar sujeito a um outro homem forte que flexionaria o músculo político e militar necessário para impor ordem em meio à anarquia. Liberdades poderiam ser perdidas¿, diz outro trecho do documento. Mais adiante, ele sugere que Bush e o Pentágono colocaram as tropas americanas num beco sem saída há quase quatro anos: ¿Porque nenhuma das operações conduzidas pelas forças militares dos EUA e do Iraque está mudando fundamentalmente as condições que alimentam a violência sectária, as forças dos EUA parecem ter sido apanhadas numa missão que não tem um fim à vista¿.

O grupo bipartidário e independente utilizou uma linguagem dura para traçar um retrato bem diferente daquele que o próprio Bush insistia em apresentar aos americanos e ao mundo. As condições no Iraque ¿são graves e estão se deteriorando¿, e a única saída é uma ampla solução diplomática e política envolvendo tanto a Síria e o Irã quanto os demais vizinhos do Iraque¿ ¿ e, inclusive, os grupos insurgentes, à exceção da al-Qaeda, diz a principal recomendação.

¿ Não sabemos se a situação no Iraque pode ser revertida, mas achamos que temos uma obrigação de tentar buscar isso. A tarefa que temos pela frente é assombrosa, mas nem tudo está perdido ¿ disse o ex-deputado democrata Lee H. Hamilton, co-presidente do grupo.

Senado aprova Gates no Pentágono

Seu parceiro no comando, o republicano e ex-secretário de Estado James Baker III, emendou contrariando claramente a posição defendida por Bush:

¿ Nós não recomendamos a solução ¿continuar mantendo o rumo atual¿. Em nossa opinião, esse enfoque não é mais viável ¿ disse ele, acrescentando que tampouco recomendava ¿uma precipitada retirada de tropas¿, porque isso causaria um banho de sangue e incitaria a uma guerra regional mais ampla.

Entre as 79 recomendações feitas pelo grupo está a retirada de quase todas as unidades de combate, gradualmente, até o primeiro trimestre de 2008. Permaneceriam no país dezenas de milhares de militares que trabalhariam como consultores, instrutores e alguns que seriam inseridos nos batalhões de combate iraquianos.

Logo depois de receber o documento de 160 páginas, Bush disse que ele continha propostas muito interessantes. E acrescentou:

¿ O estudo será levado muito a sério por este governo, e agiremos oportunamente. Peço aos parlamentares que o encarem seriamente ¿ disse. ¿ É uma oportunidade para trabalharmos juntos nesse assunto

Caberia ao governo iraquiano cumprir determinadas metas. Até, no máximo, o início de 2007 teria de aprovar leis a respeito de eleições provinciais, lucros do petróleo, reintegração ao governo dos ex-militantes do Partido Baath (de Saddam Hussein) e a dissolução de milícias. Os iraquianos teriam de obter o controle de seu Exército até abril de 2007, o controle das províncias até setembro, e ¿a auto-manutenção da segurança iraquiana até dezembro de 2007¿.

No início da noite de ontem Robert Gates, ex-diretor da CIA, a agência central de inteligência, foi aprovado pelo Senado como o novo secretário da Defesa.