Título: Sons furiosos
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 08/12/2006, O Globo, p. 2

O governo, o PT e o PMDB precisam decifrar o resultado da votação em que o oposicionista Aroldo Cedraz (PFL-BA) derrotou o petista Paulo Delgado (MG) na disputa pela nova vaga de ministro do TCU. O zumbido da colméia tem relação com a disputa da presidência da Câmara. Um que entendeu o recado foi Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Até anteontem ele dizia: ¿Não sou, mas posso vir a ser candidato¿. Ontem, recolheu seus flaps: ¿Não sou nem posso vir a ser candidato¿.

Hoje ele pode ser anunciado como um dos secretários do governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, que, assim, estaria dando uma ajuda a Lula para resolver o impasse na Câmara. Negando o convite, Geddel diz que está fora da disputa pela presidência da Câmara porque ficou clara a inexistência das condições políticas para tal. Optando por um nome próprio, Arlindo Chinaglia, o PT recusou preliminarmente o nome dele ou de qualquer outro peemedebista. E a base governista, ao rejeitar o nome de Paulo Delgado, indicado numa prévia pelos partidos da coalizão, falou de seu descontentamento com a condução do processo.

Delgado perdeu alguns votos por conta de seu estilo pessoal, mas foi derrotado pela associação entre sua candidatura ao TCU e a de Chinaglia a presidente da Câmara, apresentada na véspera pela bancada do PT. Indicado numa prévia pelos partidos da coalizão, Delgado teve 147 votos contra 172 dados a Cedraz. Estima-se que cerca de 100 deputados governistas votaram no pefelista, e que boa parte deles é adepta da reeleição do presidente da Câmara, Aldo Rebelo.

Se isso é verdade, Aldo mostrou força. A conversa de Lula de não interferir na disputa deve mudar. Ficou claro, agora, que sua nascente coalizão não pode marchar com três candidatos, o que seria repetir o erro de 2005, que deu na eleição de Severino Cavalcanti. Se o governo quiser agir, pode aproveitar a facilidade criada por Geddel, que ainda diz:

¿ Cometemos muitos erros, e um deles foi permitir a votação para o TCU no dia seguinte à realização da prévia entre os candidatos da base. Não houve tempo para a absorção do resultado e a cicatrização de feridas. O recado da base precisa ser entendido, sobretudo pelo PT e pelo PMDB. Fiz um gesto, espero que outros deixem de criar dificuldades artificiais.

O PMDB marcou reunião para tratar da escolha de seu candidato na terça-feira. É difícil, para não dizer impossível, que encontrem um nome que una a legenda e ainda seja aceito pelos outros partidos da base. Nem Eunício Oliveira nem Michel Temer parecem ter esse dom. A escolha acabará sendo entre fechar com o PT, apoiando Chinaglia, ou apoiar a reeleição de Aldo.