Título: Governo cancela venda do Berj
Autor: Amora, Dimmi e Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 08/12/2006, Rio, p. 19

Procurador-geral afirma que compradores querem mais tempo

O projeto de lei enviado para a Alerj para recuperar dívidas do ICMS até o dia 20 deste mês tem relação com um outro problema do governo. A governadora Rosinha Garotinho desistiu de vender o Berj, última parte que sobrou do Banerj, que foi privatizado em 1997. A expectativa era conseguir pelo menos R$738 milhões com o leilão do banco. O dinheiro entraria nas contas do governo ainda este ano, ajudando a aliviar o aperto financeiro do estado.

O procurador-geral do estado, Francesco Comte, explicou que a desistência ocorreu porque os interessados na compra do banco querem mais tempo para analisar o patrimônio do Berj. Comte afirmou que o leilão poderá ser realizado pelo próximo governo:

¿ O mercado sinalizou que precisava de mais tempo para analisar todos os ativos do Berj. Mas posso garantir que 100% do processo para a venda estão prontos. O próximo governo poderá vender o banco a hora que quiser ¿ disse Comte.

O governo nega que dependa da venda do banco para melhorar suas contas, mas tentou por duas vezes leiloar o Berj este ano. A primeira vez foi no fim de novembro. Apenas dois bancos se habilitaram para o negócio, mas não apresentaram proposta. Com isso, o governo publicou novo edital, marcando para dia 14 deste mês o novo leilão, que agora foi cancelado.

¿ Não houve pressa. O Berj está há anos em liquidação e só agora conseguimos transformar o prejuízo fiscal em créditos que o comprador poderia utilizar ¿ afirmou o procurador-geral.

O leilão do banco previa que o comprador devolvesse para o governo alguns patrimônios do Berj, como o prédio do Banerjão, no Centro da cidade, e diversas obras de arte. Nos bastidores da transição de governo comenta-se que o governador eleito Sérgio Cabral era contra a venda do banco. Ele teria, inclusive, atuado junto às instituições financeiras para evitar que o negócio fosse realizado.

Mesmo com o processo encaminhado, Sérgio Cabral não terá muita facilidade para leiloar o banco. O empresário Sérgio Guedes, que representa um grupo de 12 empresas que têm créditos a receber do estado, afirmou ontem que vai procurar a equipe do governo para ter sua reivindicação atendida:

¿ Só queremos que o governador cumpra a legislação. O Programa de Desestatização do estado prevê que o governo transforme os papéis que temos em ações de empresas a serem vendidas ¿ disse Guedes.

Por outro lado, um grupo de acionistas entrou com um processo na Justiça para barrar o leilão. Eles alegam que o preço mínimo de R$738 milhões está muito abaixo do valor do patrimônio do banco.