Título: Eu não sou homem de fugir na vida de responsabilidades, afirma Pires
Autor: Alvarez, Regina e Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 08/12/2006, Economia, p. 37

Titular da pasta da Defesa nega demissão e criação de gabinete de crise

Sem esconder o abatimento com a maior crise do setor aéreo, que tomou conta do país nos últimos 60 dias, o ministro da Defesa, Waldir Pires, deixou claro em entrevista ao GLOBO que não considera ter perdido o posto de coordenação da crise para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ele negou que o presidente Lula tenha determinado a criação de um gabinete de crise ou que tenha passado para Dilma a função de comando de um plano de emergência.

¿ Não é verdade que foi criado um gabinete de crise na Casa Civil para resolver o problema ¿ afirmou. ¿ Não sou homem de fugir na vida de responsabilidades.

Medindo cada palavra, ele disse que sua substituição não foi tema de debate com o Lula ¿ embora diga que respeitará qualquer decisão do presidente.

Qual a real situação da crise aérea?

WALDIR PIRES: O Comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Bueno, vai falar. Tenho sete meses no ministério. Acompanho as coisas. Mas a Aeronáutica está fazendo o enfrentamento.

O senhor foi surpreendido com o apagão aéreo?

PIRES: (silêncio prolongado). Dentro de mais algum tempo, o brigadeiro Bueno dará uma entrevista a respeito disso.

O senhor falou de ontem para hoje com o presidente Lula?

PIRES: Já falei.

Como foi a conversa? O senhor vai pedir demissão?

PIRES: Não há hipótese. Eu não sou homem que fuja das dificuldades. Não há história de pedir demissão. No meu entendimento, o presidente é quem decide sobre os seus ministros. O presidente está encerrando um mandato. Ele escolherá os seus ministros e manterá ou não integrantes da equipe segundo o seu juízo de confiança, de escolha.

No Palácio do Planalto já se fala da necessidade de mudança no Ministério da Defesa.

PIRES: Eu creio que o exercício de uma função como essa é um desafio. Para mim tem um sentido de importância muito grande. A defesa do Brasil é uma das coisas essenciais para o projeto do país na sua história. Por isso, assisto tudo isso (pausa). O presidente sabe que eu conheço a natureza da sua presença na história do país.

Mas o que o presidente falou com o senhor?

PIRES: O presidente só me tem dado palavras de incentivo.

No núcleo do governo, fala-se na possibilidade do senhor sair na reforma ministerial devido ás dificuldades na Defesa...

PIRES: Não discuto a decisão que o presidente vier a tomar. Evidentemente, respeito.

O senhor ficaria chateado com uma demissão?

PIRES: Não existe isso em política. Quando se exerce política com o objetivo da construção de uma sociedade e do destino de um país, não existe isso.

Quando o presidente Lula falou com o senhor, qual era o sentimento dele em relação ao apagão aéreo?

PIRES: É claro que o presidente está preocupado com a população, com o fato de que todos exercer o direito de ir e vir em avião. Essa é a preocupação do presidente e a nossa preocupação essencial.

Foi criado um gabinete para resolver o problema?

PIRES: Não é verdade.

Mas a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) assumirá essa função de coordenação da crise?

PIRES: Eu não vi cogitação sobre isto.

Mas a ministra Dilma vai ajudar?

PIRES: Eu tenho a melhor relação pessoal e funcional com a ministra Dilma.

Mas ela está tentando ajudar nessa crise?

PIRES:Ela sempre acompanha todo o problema de governo.

No relatório feito pelo Ministério da Defesa e entregue aos deputados, existe a informação de que está sendo investigado a hipótese de sabotagem. Há essa suspeita?

PIRES: Existe essa suspeita na imprensa. Essa suspeita é de membros do Congresso.

Mas qual a sua avaliação?

PIRES: Creio que não foi um problema de sabotagem no episódio de anteontem.

E nos outros episódios? Houve sabotagem? Há corporativismo dos controladores?

PIRES: Os controladores expuseram as suas aspirações. A paralisação dos vôos foi objeto da primeira conversa minha com o comandante da Aeronáutica para reestabelecer a normalidade. Constituímos um grupo de trabalho com representantes de todos os setores.

Até a queda do boeing da Gol aparentemente tudo funcionava bem. Então fica a impressão que há sabotagem dos controladores. Qual a sua avaliação?

PIRES: Esse episódio desta semana não foi sabotagem.

Mas e em relação à crise aérea que já passa de 60 dias?

PIRES: Eu disse para eles que o dever de um ministro é o de servir a população. Entendo que as aspirações dos controladores são legítimas. Todas as aspirações humanas são legítimas. Mas disse que o bem estar da população é coisa essencial para o Estado democrático. Falei que nós iríamos estudar o assunto para soluções adequadas.

Os deputados que estiveram com o senhor disseram que também não havia técnico para resolver o problema...

PIRES: Não havia um técnico no momento.

Então foi uma falha?

PIRES: Foi problema nos equipamentos de comunicação.

Como a população terá tranqüilidade para voar?

PIRES: Creio que o comandante da Aeronáutica vai falar sobre isso. São o anseio e a exigência do governo. Inclusive a minha.