Título: Sem pressa no Iraque
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 08/12/2006, O Mundo, p. 44

Bush admite que situação no país é ruim, mas não sinaliza mudanças imediatas

Apesar de ter admitido ontem, pela primeira vez, que a situação no Iraque é muito ruim, o presidente George W. Bush deu a entender que não tem muita pressa em buscar uma solução, adotando uma nova estratégia para acabar com a guerra naquele país ¿ muito embora tenha, também, admitido que os Estados Unidos precisam ¿de um novo enfoque¿ para o problema.

Depois de definir como ¿muito construtivo¿ o informe apresentado pelo Grupo de Estudos Sobre o Iraque, Bush ¿ que tinha ao seu lado o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair ¿ disse que o documento, contendo 79 recomendações específicas para a paz no Iraque, era nada mais do que ¿mais um de vários estudos¿ a respeito do assunto.

Ele se referia ao fato de que o próprio Departamento de Defesa também está promovendo uma avaliação ¿ encomendada por ele ¿ assim como o Departamento de Estado e o Conselho de Segurança Nacional. A perspectiva é de que tais análises sejam entregues a ele nos últimos dias deste ano. E, só então, ele se reunirá com conselheiros para decidir por um novo rumo, o que poderia levar ainda muitas semanas a ser feito, devido aos feriados de fim de ano e ao recesso do Congresso.

Numa tentativa de reafirmar que considerava sério o informe produzido pela equipe bipartidária comandada pelo ex-secretário de Estado James Baker e pelo ex-deputado Lee Hamilton, Bush disse:

¿ Alguns informes são produzidos e servem apenas para juntar poeira. A verdade é que muitos relatórios jamais são lidos por alguém aqui em Washington. Para mostrar a vocês o quanto este aqui é importante, eu digo: eu o li e o nosso convidado (Blair) também o leu ¿ afirmou ele durante entrevista na Casa Branca, junto de seu colega britânico.

Diálogo com Síria e Irã ainda é dúvida

O presidente americano demonstrou irritação ao ser interpelado por um repórter inglês. O jornalista queria saber por que Bush, depois de ler o documento, definira a situação no Iraque como apenas ¿inquietante¿, quando a própria equipe que o preparara afirmara que aquele país está vivendo uma situação ¿grave e deteriorante¿. As duas frases seguintes perturbaram o presidente:

¿ O senhor ainda continua negando que a situação lá está mal? O senhor está realmente sendo sincero sobre mudar a estratégia? ¿ perguntou o jornalista.

Visivelmente irritado, Bush demorou uns instantes para responder, de forma ríspida:

¿ A coisa está mal no Iraque, está bem assim? Com todo o respeito, tenho falado muito sobre isso. Entendo que a situação é dura, e tenho dito isso ao povo americano.

Bush deu a entender que a sugestão, feita pela comissão especial, para um diálogo com a Síria e o Irã não será aceita por ele, a menos que aqueles países aceitem condições para tal.

O presidente disse que para ter uma conversa com a Síria seria preciso que aquele país deixasse de desestabilizar o governo do Líbano. E que só conversaria com o Irã se o governo iraniano suspendesse o seu programa de enriquecimento de urânio. E completou:

¿ Se Irã e Síria querem sentar à mesa com os Estados Unidos, é fácil. Basta que tomem decisões que levem à paz e não ao conflito ¿ disse ele, invertendo a premissa da comissão especial de que, na verdade, os EUA é que devem procurar aqueles dois países para encontrar uma saída honrosa das tropas americanas do Iraque.

Blair foi mais comedido em seus comentários. Disse que recebia com satisfação o informe sobre o Iraque e que achava importante que EUA e Grã-Bretanha se concentrassem, agora, nos elementos necessários para garantir o êxito ¿porque as consequências de um fracasso são severas¿.