Título: Expectativa de caos no Natal
Autor: Alvarez, Regina e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 09/12/2006, Economia, p. 37

Aeronáutica teme nova operação-padrão em 22 de dezembro, e governo não tem plano B

O Comando da Aeronáutica teme que uma nova operação-padrão possa ser deflagrada ainda este mês pelos controladores de vôo, causando mais transtornos no tráfego aéreo, às vésperas dos feriados de Natal e Ano Novo, informou ao GLOBO uma fonte militar graduada. A data considerada referência para essa paralisação ¿ total ou parcial ¿ seria a de 22 de dezembro. As autoridades da Aeronáutica consideram que a ¿travessia¿ de dezembro sem novos transtornos depende de um conjunto de fatores, alguns fora do controle dos militares, como uma nova operação-padrão.

¿ A FAB tem capacidade de fazer o controle aéreo sem problemas neste período (até o fim do ano). Mas algumas ações dependem de outros órgãos, e algumas situações não teríamos como prever, como uma gripe coletiva dos controladores ¿ observa uma fonte do Comando, referindo-se, de forma irônica, ao risco de nova operação-padrão.

A ¿gripe¿ é uma alusão, ainda, a uma das armas dos controladores para fazerem greve branca: o pedido de licença médica de muitos profissionais ao mesmo tempo. Desde que estourou a crise, há cerca de dois meses, o Comando da Aeronáutica decidiu melhorar seus mecanismos de monitoramento dos profissionais, com um trabalho de contra-informação. Isso porque teme ser pego de surpresa novamente. Os militares acompanham todos os movimentos dos controladores ¿ a possibilidade de operação-padrão teria sido mencionada em comunidades do site de relacionamento Orkut.

Desgaste político preocupa Lula

O que assusta, na suspeita do Comando da Aeronáutica, é que não há plano B para evitar um novo apagão aéreo. A medida de maior fôlego anunciada até agora ¿ a descentralização do controle do espaço aéreo ¿ levará, no mínimo, seis meses. Antes de março, não haverá aumento substancial no número de controladores. O próprio brigadeiro Luiz Carlos Bueno, comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), admitiu na quinta-feira que o que está ao alcance a curto prazo é aumentar em sete o número de controladores no Cindacta 1, da capital federal.

Controladores de vôo consultados não confirmaram que a operação-padrão esteja sendo preparada. Mas nenhum dos profissionais negou ao GLOBO a possibilidade.

Enquanto isso, no Palácio do Planalto, a avaliação é que o governo deve aproveitar o momento de desgaste dos controladores junto à opinião pública para pressionar por um acordo que garanta a normalidade das operações aéreas no período de festas de fim de ano. Lula está extremamente incomodado com o desgaste político. A avaliação no Planalto é que se essa crise tivesse ocorrido em setembro, teria havido grande desgaste eleitoral.

¿ Não é possível que, do dia para a noite, tudo tenha ficado ruim nos céus do Brasil ¿ teria desabafado Lula a um interlocutor petista, ao levantar suspeita em relação aos controladores.

Mesmo assim, o presidente determinou um entendimento entre o Comando da Aeronáutica e os controladores ¿ a maioria, militares. Um dos negociadores do governo federal nesta crise resumiu a atual situação:

¿ Não existe problema técnico. O problema está dentro da Aeronáutica.

MIlitares criticam Anac e Infraero

O núcleo do governo identifica que a Aeronáutica é uma caixa preta, com problemas sérios de gestão, que esconde as dificuldades, tentando encontrar soluções internas. Esse diagnóstico é que levou à decisão de trocar o comandante da Aeronáutica na reforma ministerial.

Já o Comando da Aeronáutica, em avaliações internas, concluiu que a crise com os controladores está servindo para mascarar outros problemas da aviação civil, de responsabilidade das empresas, da Infraero e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ¿ o que também evidencia a incapacidade do governo de formular um plano emergencial.

As empresas não estariam preparadas para o check-in, em tempo hábil, de todos os passageiros que se deslocam pelo país no mês de dezembro, nem montaram estruturas de check-in fora dos aeroportos, como é comum no exterior.

A Infraero estaria também com problemas operacionais, como a falta de equipamentos como escadas, o que também contribui para atrasar os vôos. No caso da Anac, a maior crítica é a falta de planejamento. Uma fonte do Comando afirmou que o sucesso das operações do tráfego aéreo em dezembro depende de uma previsão adequada da Anac sobre o percentual de aumento do número de passageiros neste período, por exemplo.