Título: Inflação de 2006 será a mais baixa em oito anos
Autor: Louven, Mariza
Fonte: O Globo, 09/12/2006, Economia, p. 41

IPCA recua para 0,31% no mês e acumula alta de apenas 2,65% desde janeiro, permitindo novos cortes de juros

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ¿ usado pelo governo como parâmetro para o cálculo da meta de inflação do país ¿ ficou em 0,31% em novembro, um resultado muito próximo do que foi registrado em outubro, de 0,33%, mas abaixo das expectativas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta de 1,05% dos alimentos pressionou o índice para cima, movimento compensado pelas quedas de preços em itens como energia elétrica e salários de empregados domésticos. Com o real valorizado frente ao dólar e uma safra agrícola livre dos problemas climáticos do ano anterior, o IPCA de 2006 deve ficar entre 3,05% e 3,1%, a menor taxa desde a de 1,65% registrada em 1998.

A taxa acumulada até novembro foi de 2,65%, metade dos 5,31% do mesmo período de 2005. Em 12 meses, o resultado ficou em apenas 3,02%, aquém do centro da meta de inflação do governo, de 4,5%, e dos 3,26% registrados no ano passado. Para dezembro, a desaceleração dos preços dos alimentos, combinada com a alta de tarifas de transporte no Rio e em São Paulo, deve levar a um resultado próximo ao de novembro. As expectativas para 2007 também são de inflação em queda, influenciada principalmente pelos preços do álcool.

¿ O índice vem caindo e convergindo para números cada vez menores. A inflação alta, dos choques econômicos, está ficando para trás ¿ disse Eulina dos Santos, coordenadora de Índice de Preços do IBGE.

Analistas prevêem taxa em torno de 3,1% para este ano

Em dezembro, pressões inflacionárias já conhecidas vão puxar o índice para cima, mas deverão ser equilibradas pela desaceleração dos preços dos alimentos, analisa o economista André Furtado, da Fundação Getulio Vargas. A alta virá de reajustes nos transportes da região metropolitana de São Paulo e do Rio. Na capital paulista, os ônibus urbanos e o metrô subiram, respectivamente, 15% e 9,52% no dia 30 de novembro. Os táxis também ficaram 9,37% mais caros, desde 9 de dezembro. No Rio, os ônibus urbanos aumentaram 5,26% no último dia 4.

¿ São pressões fortes, mas concentradas no Rio e em São Paulo. Por outro lado, itens importantes, como a carne e o frango, cujo consumo aumentou durante a Copa do Mundo, já começaram a mostrar desaceleração ¿ acrescentou Eulina.

Com a inflação acumulada em 2,65% no ano, a repetição em dezembro do resultado de novembro levaria o IPCA do ano para 2,97%, bem abaixo do centro da meta de inflação e com boas perspectivas para novos cortes na taxa Selic durante o ano de 2007, afirma o professor Antônio Carlos Assumpção, do Ibmec. Mas tanto Furtado quanto o economista Marco Antônio Franklin calculam que, devido à pressão dos transportes, o fechamento do ano acabará ligeiramente acima de 3%.

Para 2007, porém, as expectativas são de queda. Segundo Franklin, a inflação do primeiro trimestre ficará perto de 1%, contra 1,44% do mesmo período de 2006. Isso porque o preço do álcool deve subir muito menos, na entressafra de 2007, do que os 27,5% verificados no primeiro trimestre de 2006. Se confirmadas as previsões, a inflação acumulada em 12 meses até março de 2007 será de 2,5%.

Em novembro de 2006, os alimentos foram responsáveis por 70% do IPCA, depois de já terem subido 0,88% no mês anterior. Em período de entressafra, o tomate chegou a ficar 29,63% mais caro. O consumidor também pagou 5,32% a mais pelo arroz, 3,03% pelo feijão, e 5,77% pelo frango. Outro item que pesou no bolso foi o cigarro, com elevação de 4,63%.

Por outro lado, os preços dos combustíveis caíram. Em meio à safra recorde de cana, o álcool teve nova redução, de 0,86%, depois do recuo de 3,28% no mês anterior, acumulando queda de 4,35% no ano. Já os preços da gasolina baixaram 0,17%, contra 0,11% no mês anterior. Uma das explicações é o aumento da proporção de álcool, de 20% para 23%, na mistura.

Outras baixas foram verificadas em energia elétrica (-0,57%) e remédios (-0,17%). O reflexo do aumento do salário mínimo sobre os salários dos empregados domésticos também está ficando para trás, levando este item a apresentar variação menos intensa de um mês para o outro, de 1,39% para 0,43%.