Título: Para ex-exilados, fima de era sombria
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 11/12/2006, O Mundo, p. 21
Para Serra, o pior da política; para Marco Aurélio Garcia, um carrasco
BRASÍLIA e SÃO PAULO. Para os brasileiros que buscaram abrigo no Chile para fugir da ditadura militar no Brasil e, após o golpe contra a Allende, em 1973, tiveram contato com a truculência do governo Pinochet, a morte do ditador marca o fim de uma era macabra. Para o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), Augusto Pinochet representa o que existia de pior na política latino-americana:
¿ Era um inimigo da democracia, homem da repressão, da tortura, um corrupto ¿- disse Serra, exilado no Chile depois do golpe brasileiro, onde conheceu Mônica, sobrinha de Salvador Allende, com quem se casou e teve dois filhos.
O presidente nacional do PT e secretário de assuntos internacionais do governo , Marco Aurélio Garcia, exilado no Chile e preso durante o golpe de Pinochet, disse que ainda tem lembranças terríveis daquele período. Dois dias após o golpe ele e os amigos Emir Sader e Jorge Mattoso foram presos pela polícia secreta de Pinochet, a Dina. Marco Aurélio foi solto e exilado com mulher e filho no Panamá:
¿ Tive vários alunos assassinados, vários amigos presos e torturados. O Chile, a América Latina e a Humanidade se livraram de um carrasco ¿ disse.
Para o deputado federal (PV-RJ) Fernando Gabeira, que também estava no Chile quando houve o golpe contra Allende, Pinochet era uma figura nefasta. Para o o prefeito do Rio, Cesar Maia, o país mais estável e previsível da América Latina finalmente se reconciliará com a sociedade.
¿ O falecimento de Pinochet mostra isso nas ruas de Santiago ¿ disse o prefeito.
O deputado federal Paulo Renato de Souza (PSDB-SP) disse acreditar que a morte de Pinochet pacificará a forte divisão política que persiste no país.
¿ O regime de Pinochet foi muito violento e essa divisão nunca foi superada pela redemocratização¿- disse o ex-ministro, que viveu no Chile, de 69 a 78.
O ex-ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos Nilmário Miranda lamentou que Pinochet tenha morrido antes de ser punido pelas torturas e assassinatos que comandou.
¿ Ele foi condenado pela história, morreu em desonra. E a ironia é que isso acontece neste 10 de dezembro, Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos ¿ disse.
A vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra, lamentou que Pinochet tenha morrido sem responder pelos crimes:
¿ Lamento que ele não tenha revelado os nomes de desaparecidos, chilenos, latino-americanos e inclusive brasileiros.