Título: O ditador que iniciou o neoliberalismo no Chile
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 11/12/2006, O Mundo, p. 21

Com Pinochet, os chamados `Chicago boys¿ abriram caminho para modelo econômico admirado no restante do mundo

BUENOS AIRES. O golpe de Estado liderado pelo ex-ditador Augusto Pinochet abriu as portas do Chile para o neoliberalismo econômico. Com Pinochet chegaram ao poder os chamados ¿Chicago Boys¿, grupo de economistas que haviam estudado na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e que defendiam a abertura total da economia, a drástica redução do Estado e um rigoroso equilíbrio fiscal. Com os ¿Chicago boys¿, o Chile deu os primeiros passos para construir um modelo econômico que seria admirado no resto do mundo, apesar do alto custo social que sua aplicação significou para o país.

As bases do modelo econômico de Pinochet foram mantidas pelos sucessivos governos que assumiram o poder após a redemocratização do país, em 1990, segundo Guillermo Hollzman, professor da Universidade do Chile. Por isso, o Chile arrasta até hoje um das mais pesadas heranças de Pinochet: a desigualdade social.

¿ Temos uma economia que cresce, mas nossa sociedade é terrivelmente desigual ¿ afirmou o especialista.

Milton Friedman colaborou com governo chileno

Após derrubar o governo de Salvador Allende, o regime militar recebeu um Chile com inflação superior a 300%. A recessão só foi superada após os dois primeiros anos da ditadura: em 1974, o PIB chileno cresceu apenas 1% e em 1975 recuou quase 14%. No ano seguinte, após a incorporação dos ¿Chicago boys¿ e a colaboração de Milton Friedman, considerado o pai do neoliberalismo, a economia chilena começou a se estabilizar. O governo reduziu o gasto público, demitiu 30% dos servidores, aumentou impostos, privatizou estatais e aplicou uma histórica reforma da Previdência.

Em 1978, Pinochet anunciou os pilares de seu modelo econômico: um novo código trabalhista, a reforma da Previdência que transferiria o sistema a empresas privadas, uma nova legislação que concederia amplas garantias aos capitais privados e a redução do papel do Estado em políticas sociais. O impacto inicial foi desastroso (o desemprego chegou a 16%), mas entre o final da década de 70 e o início da década de 80, o país registrou altas taxas de crescimento e, também, uma delicada situação social. Em 1979, o PIB chileno cresceu 7,1%, mas o desemprego atingiu 13,6%.

¿ O panorama voltou a se complicar com a crise de 1982 (a economia despencou 13,4%), uma das mais graves do Chile ¿ explicou Hollzman.

Privatizações foram mais radicais que na Inglaterra

A crise foi provocada por turbulências externas, excessivo endividamento das empresas e uma política de intervenção do Banco Central no mercado cambiário para fixar o valor do dólar. Na época, o governo foi obrigado a absorver dívidas de bancos e empresas privadas.

Pinochet abandonou os ¿Chicago boys¿, mas a partir de 1985 retomou o caminho neoliberal com o novo ministro da Economia Hernán Büchi, que deu início a um segundo momento do milagre chileno. Mais uma vez, a receita incluiu redução do gasto público, desvalorização da moeda para favorecer exportações e venda de estatais. A economia voltou a crescer a taxas entre 6% e 10% e o desemprego chegou a quase 20%, em grande medida pelas privatizações depois revisadas na década de 90.

Segundo a jornalista Maria Olivia Monckeberg, autora de ¿O saque dos grupos econômicos ao Estado chileno¿, entre 85 e 89 foram vendidas mais de 30 estatais, uma perda estimada em mais de US$1 bilhão. Uma comissão da Câmara chilena investigou as privatizações e determinou que ex-funcionários de Pinochet passassem a ser proprietários das antigas estatais.