Título: CSN oferece US$9,6 bi pela Corus
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Fonte: O Globo, 12/12/2006, Economia, p. 21

Siderúrgica cobre nova proposta da indiana Tata, mas, para analistas, preço é alto

LONDRES, MUMBAI, SÃO PAULO e RIO

Esquentou a briga pelo controle da siderúrgica anglo-holandesa Corus. Ontem de manhã, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) superou a proposta de US$9,2 bilhões feita horas antes pela indiana Tata Steel e ofereceu o equivalente a US$9,6 bilhões (4,9 bilhões de libras). ¿Nosso objetivo é destravar o valor de nossos ativos em minério de ferro por meio da Corus, transformando-os em efetivos em termos de custos, alta qualidade de produtos siderúrgicos usando as capacidades avançadas de engenharia da Corus e sua excelente plataforma de distribuição européia¿, informou o presidente-executivo da CSN, Benjamin Steinbruch, em um comunicado.

Embora considerem a aquisição positiva para a maior atuação internacional, os analistas do mercado financeiro ficaram surpresos com o valor a ser desembolsado pela CSN, que, em sua avaliação, está pagando caro pelo negócio. Além disso, mostram-se preocupados com o grau de endividamento que a oferta implicará à siderúrgica. Como reflexo, o papel da CSN na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 2,31%. Já a ação da Corus saltou 5% em Londres.

Em teleconferência com analistas, o diretor financeiro da CSN, Otávio Lascano, tentou tranqüilizá-los, lembrando que a maior parte dos recursos não sairá do caixa da CSN, mas de empréstimos junto a bancos de investimento internacionais, que serão pagos em sete anos.

Empresa vale mais que CSN em bolsa

O executivo disse que a companhia garantiu uma linha de US$8 bilhões com os bancos Barclays, Goldman Sachs e ING, e firmou uma linha de crédito de cerca de US$2,5 bilhões junto ao UBS e ao Citibank. A Corus ainda terá para si US$650 milhões para capital de giro. Segundo Lascano, a CSN tem um caixa entre US$1,5 bilhão e US$2 bilhões, que também integrará o pacote de aquisição.

¿ Com ou sem linha de crédito, o endividamento da CSN será mais de três vezes superior à expectativa de geração de caixa da empresa. Estrategicamente, o negócio é muito bom, mas saiu muito caro, isso vai gerar dívidas pesadas nos próximos anos. O que deixa o mercado temeroso é que a empresa já tinha um plano agressivo de expansão, de cerca de US$5 bilhões até 2009. Com mais essa compra, será necessária uma geração de caixa excepcional ¿ avalia Kelly Trentin, analista de investimentos da SLW Corretora de Valores.

Daniella Marques, analista de Renda Variável da Mercatto Gestão de Recursos, lembra que a CSN está pagando o equivalente a um ágio de 43% pela Corus. Para ela, o negócio, até agora, parece mais vantajoso para a Corus que para a CSN:

¿ O preço é salgado demais. Para se ter uma idéia do peso do negócio, a CSN está comprando uma empresa que vale mais que ela em bolsa de valores. A CSN vale R$17 bilhões, o equivalente a US$8,2 bilhões. Já a Corus vale, com base no que a CSN vai desembolsar pela companhia, US$9,6 bilhões. A Companhia Vale do Rio Doce, por exemplo, que vale US$67 bilhões, comprou a Inco por US$17 bilhões. Isso não quer dizer que a oferta não vai gerar ganhos de sinergia e aumentos de exportação para a CSN, mas a questão é: a que preço?

Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, lembra que a empresa enfrenta sérias barreiras à exportação de produtos de maior valor agregado. Com a compra da Corus, poderá produzir as placas de aço no Brasil e laminá-las no exterior, driblando as restrições:

¿ Isso gera uma possibilidade de crescimento maior para a CSN, porque ela entrará no que é hoje o maior mercado para o setor: o europeu, que tem uma demanda elevada, renda alta e grande potencial de vendas. Mas, há dois lados para toda moeda. O outro é que a CSN já é uma empresa bastante endividada.

Compra cria quinto maior grupo do setor

Após a oferta da rival, a Tata disse que está considerando sua posição. A conclusão do negócio, seja com a CSN ou com a Tata, criará o quinto maior grupo siderúrgico do mundo, e será o mais recente episódio de uma onda de aquisições fomentada pelo desejo das empresas de alcançar escala global e garantir reservas de matérias-primas. Neste ano, a Mittal Steel comprou a Arcelor e criou a Mittal Arcelor, maior siderúrgica do mundo.

Segundo Lascano, a CSN deve obter sinergias operacionais de US$300 milhões a US$350 milhões, sem incluir impostos, até 2009. Ele prevê um fluxo de caixa adicional de US$450 milhões até 2009, devido ao fornecimento de minério de ferro da mina Casa de Pedra, pertencente à CSN.

¿ As sinergias crescerão significativamente a partir de 2009 ¿ afirmou Lascano, acrescentando que a oferta tem o apoio do Conselho de Administração da Corus e dos administradores dos fundos de pensão da companhia européia.

Em nota oficial, o presidente da Corus, Jim Leng, disse que a contrapartida da CSN é ¿consistente com o objetivo estratégico da empresa¿ e que a ¿combinação das duas empresas criará uma plataforma a partir da qual será possível competir e crescer em um mercado cada vez mais globalizado¿. (Patricia Eloy, com agências internacionais)