Título: Meirelles admite que só controle da inflação não garante crescimento
Autor: Oliveira, Eliane , Beck, Martha e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 12/12/2006, Economia, p. 22

Para presidente do BC, expansão de 5% depende da economia global

SÃO PAULO. Criticado pela manutenção de juros reais elevados, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou ontem que a inflação abaixo da meta é um sinal de sucesso do trabalho da autoridade monetária. Mas admitiu que só o controle dos preços não é suficiente para garantir maior crescimento econômico.

¿ É possível crescer 5%, mas depende da economia internacional e de uma série de medidas que estão sendo discutidas pelo governo. Este é um grande esforço e um grande desafio nacional ¿ afirmou, referindo-se ao pacote que a equipe econômica promete anunciar até semana que vem.

Para Meirelles, que participou de seminário em São Paulo sobre risco-Brasil, o país está hoje melhor do que no passado:

¿ Já é um avanço que estejamos discutindo o que fazer para crescer, e não mais como sair de crises.

Ele disse que os juros reais permanecem altos porque o mercado ainda exigiria um ¿prêmio¿, dado o histórico de instabilidade da inflação nos últimos anos.

¿ Quanto mais compromisso do BC com a meta de inflação, mais a taxa de risco cairá ¿ afirmou Meirelles.

Kawall chama de `chilique¿ reação ao aumento do PPI

No mesmo evento, o secretário do Tesouro, Carlos Kawall, defendeu a manutenção da atual meta de superávit fiscal, de 4,25% do PIB. Segundo ele, seria politicamente difícil propor sua elevação. Mas deixou claro que não vê motivos para descontar dos 4,25% o provável aumento do Projeto-Piloto de Investimento (PPI), de 0,2% para 0,5% do PIB ¿ uma das medidas em estudo pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tentar destravar a economia.

O PPI permite que não se computem determinados investimentos como despesas ao calcular o superávit primário. Para Kawall, mesmo que o PPI seja elevado agora, a parcela dedutível deveria permanecer em 0,2%. Ele classificou de exagerada e uma espécie de ¿chilique¿ a reação inicial do mercado ao uso do PPI para possível redução do superávit primário.

¿ O que é deduzido ou não da meta é uma segunda questão. Portanto, eu me referi ao chilique do mercado, na medida em que qualquer discussão sobre o PPI é sempre interpretada como reduzir o superávit primário. E procurei mostrar que uma coisa não é igual à outra.

Kawall reafirmou que a participação das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs, atreladas à variação da Selic) na dívida pública interna este ano, poderá ficar abaixo do piso de 39% estabelecido no Plano Anual de Financiamento. Caso isso aconteça, ele estima que a participação dos papéis prefixados pode superar a dos pós-fixados já no primeiro semestre de 2007:

¿ A parcela atrelada à taxa básica de juros está em trajetória de morte natural.