Título: Irã sedia conferência para questionar Holocausto
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Fonte: O Globo, 12/12/2006, O Mundo, p. 34

Presidente Ahmadinejad é alvo de raro protesto estudantil durante evento numa universidade de Teerã

TEERÃ. O governo do Irã deu início ontem, em Teerã, a uma polêmica conferência com o objetivo de questionar a ocorrência do Holocausto. Idealizado pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad ¿ que desde que chegou o poder, em 2005, foi condenado internacionalmente por dizer que o Holocausto é um ¿mito¿ e que Israel é um ¿tumor que deve ser varrido do mapa¿ ¿ o evento ¿Revisão do Holocausto: uma visão global¿ conta, segundo o governo do Irã, com a participação de 67 pesquisadores de 30 países. Além do Holocausto, os participantes discutirão até que ponto os nazistas alemães usaram câmaras de gás contra judeus nos campos de concentração. Estima-se que seis milhões de judeus tenham sido exterminados pelos nazistas durante a Segunda Guerra mundial (1939-1945).

¿ O objetivo desta conferência não é negar nem confirmar o Holocausto, mas sim criar uma oportunidade para pensadores expressarem livremente as suas opiniões (sobre o Holocausto), coisa que eles não podem fazer na Europa ¿ disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki.

Ao anunciar a conferência no domingo, Ahmadinejad declarou que seu desejo era ¿encorajar um debate acadêmico e examinar a justificativa para a criação do Estado de Israel¿. Entre os participantes do evento está David Duke, ex-líder da organização racista americana Ku Klux Klan.

¿ É preciso que tenhamos liberdade de expressão. É um escândalo que não possamos discutir o Holocausto livremente. Essa proibição faz com que as pessoas fechem os olhos para os crimes de Israel contra o povo palestino ¿ dispara.

Alguns judeus vindos da Europa e dos Estados Unidos participavam do evento vestidos com longos casacos, chapéus pretos e broches que protestavam contra Israel. Um dos broches dizia: ¿Judeu sim, sionista, não¿. Rabinos ortodoxos foram convidados a participar do evento, que acaba hoje. O britânico Ahron Cohen disse que foi à conferência para expressar o ponto de vista ¿judeu ortodoxo¿.

¿ Certamente dizemos que houve o Holocausto, pois nós passamos por ele. Mas o que não pode acontecer é que ele sirva de desculpa para que atos de injustiça sejam cometidos contra os palestinos ¿ afirmou.

A comunidade judaica no Irã, que tem cerca de 25 mil integrantes, ficou irritada com a conferência, de acordo com o único representante judeu no Parlamento iraniano, Moris Motamed.

¿ Negar o Holocausto é um insulto. O governo insulta toda a comunidade judaica ao fazer essa conferência ¿ atacou Motamed.

A conferência gerou polêmica também fora do Irã. Um integrante do Parlamento iraniano, que não quis se identificar, disse que o encontro é ¿péssimo para a diplomacia, num momento em que o Irã se encontra na berlinda por conta de seu programa nuclear¿. Em Berlim, na Alemanha, uma conferência foi promovida pelo governo, em protesto contra o evento de Teerã. O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, chamou o encontro de ¿um fenômeno doentio do fundamentalismo iraniano¿. O Departamento de Estado americano também fez críticas ao encontro.

Universitários tentam interromper presidente

Em outro episódio, o presidente do Irã enfrentou alguns protestos, ontem, durante um discurso seu na Universidade Amirkabir, em Teerã. Cerca de 60 estudantes tentaram interromper o evento, gritando e queimando fotos do presidente, que continuou o seu discurso, segundo o porta-voz do governo. Foi a primeira manifestação pública contra Ahmadinejad, eleito com uma votação esmagadora há cerca de 16 meses. Os motivos dos protestos não estão claros, mas acredita-se que os estudantes pedem por reformas nas instituições de ensino de todo o país.

A manifestação ocorreu às vésperas de eleições nacionais no Irã, que vão escolher governantes locais e a poderosa Assembléia de Especialistas ¿ no primeiro teste de popularidade para o governo de Ahmadinejad.