Título: PT fecha o ano com dívida de R$40 milhões
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 10/12/2006, O País, p. 12

Contas excluem o débito, ainda não quitado, de R$9,8 milhões da campanha à reeleição do presidente Lula

BRASÍLIA. Apesar de ter obtido a maior arrecadação em uma campanha eleitoral, com receitas que somaram R$93,4 milhões para gastos estimados em R$104,3 milhões, o PT deve fechar o ano com uma dívida consolidada de R$40 milhões, sem contar os R$9,8 milhões de débitos ainda não quitados da campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa dívida nova foi assumida pelo partido e, segundo o presidente interino, Marco Aurélio Garcia, deverá ser saldada até o fim do ano. o fato é que o PT termina sua primeira experiência no comando do Brasil mais endividado do que começou, pelos números oficiais.

A dívida acumulada ainda é alta, mas, do ano passado para cá, mais de R$15 milhões foram quitados. Em 2005, a legenda fechou o ano com uma dívida reconhecida de R$55 milhões. Foi o ano em que os papéis que dormitavam nas gavetas do ex-tesoureiro Delúbio Soares ganharam vida e aterrorizaram petistas que, começando pelo próprio Lula, vieram a público para dizer que nada sabiam dos desajustes financeiros do partido.

Do total dos débitos, o PT não reconhece uma suposta dívida de R$100 milhões, já corrigidos, que o publicitário Marcos Valério de Souza cobra do partido na Justiça. o valor refere-se a empréstimos que teriam sido tomados por Valério para a legenda em bancos mineiros e à parcela de outro, que ele pagou como avalista do partido - R$55.941.227,81 e R$351.508,20, respectivamente.

Partido renegociou débitos com bancos e cobra dízimo

o atual tesoureiro, Paulo Ferreira, diz que, em decisão de primeira instância, a Justiça não reconheceu o PT como parte do processo. Valério recorreu da decisão.

- o PT ainda é um partido endividado, mas o perfil da dívida foi renegociado, e não estamos mais sendo cobrados insistentemente -- descreve Ferreira, apressando-se em dizer que a legenda renegociou pagamentos, fez uma campanha de arrecadação entre os filiados e agora aperta o cerco contra os petistas que têm cargos no governo e estão inadimplentes com o pagamento do dízimo a que se obrigam.

Essa renegociação incluiu, por exemplo, bancos que ganharam destaque na avalanche do escândalo do mensalão. o BMG e o Banco Rural, que emprestaram dinheiro ao PT sob aval de Valério, fecharam um acordo pelo qual o partido passará os próximos quatro anos pagando o que reconhece que deve.

Com o Rural, o PT se comprometeu a pagar, durante 51 meses, uma dívida de R$8 milhões. A primeira parcela foi de R$500 mil, e as demais serão de R$150 mil. Com o BMG, a dívida é menor, de cerca de R$5 milhões, segundo Ferreira, que não deu detalhes da transação.

Ferreira disse que o PT também renegociou com pequenos e médios fornecedores, como gráficas, que corriam o risco de fechar caso não começassem a receber parte do que tinham de crédito.

- Priorizamos as empresas que enfrentavam maiores dificuldades - observou.

Corte na folha de pagamentos foi de 40%

Nas medidas de contenção de gastos, o partido reduziu o número de funcionários, escasseou as viagens de seus dirigentes e diminuiu a quantidade de encontros que fazia.

- Só na folha de pagamento obtivemos uma economia de cerca de 40%. Em julho do ano passado gastávamos R$650 mil com essa despesa e agora chegamos a R$380 mil no máximo.

No entanto, outras iniciativas do tesoureiro para fazer surgir dinheiro nos cofres do partido não tiveram muito êxito. Em novembro do ano passado, o PT promoveu uma campanha entre militantes para arrecadar recursos. A meta era obter R$13 milhões. Um ano depois, conseguiu-se R$3 milhões.

Mesmo com toda dificuldade financeira, o partido foi o maior doador para a campanha vitoriosa de Lula. Deu R$10 milhões, dinheiro que lhe foi destinado por doadores que preferiam oPTar pela legenda a terem seus nomes expostos na prestação de contas do candidato-presidente. Ferreira disse que a verba recebida em doação pode ser utilizada para qualquer finalidade pelo partido, que oPTou pela campanha ao pagamento de suas dívidas:

- os partidos são autorizados a arrecadar recursos e podem fazer o que quiserem com o dinheiro. Não há impedimento legal.