Título: Problemas começaram já na decolagem
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 13/12/2006, O País, p. 12

Também houve falha ao não pedir ajuda para Manaus

BRASÍLIA. A Polícia Federal responsabiliza um 3º sargento do Centro de Controle do Tráfego Aéreo de Brasília por falhas cruciais que teriam levado ao acidente com o Boeing da Gol. O sargento, que assumiu a vigilância do Legacy em lugar de outro militar, suspeitou do funcionamento do transponder do jato. Diante do problema, tentou se comunicar de cinco a oito vezes com os pilotos. Para a polícia, ele deveria ter pedido imediatamente ajuda ao Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Manaus, para onde rumava o Legacy.

Para o delegado Renato Almeida, os problemas começaram na decolagem do Legacy, em São José dos Campos. Um dos controladores de vôo local teria passado uma informação incompleta aos pilotos do Legacy no momento da definição do plano de vôo. Ele teria dito que o Legacy voaria a 37 mil pés e, na mesma frase, citou o nome do Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus. Na verdade, o jato só poderia voar a 37 mil pés até Brasília. A PF ainda não tem certeza se o controlador foi ambíguo por imperícia ou se foi induzido ao erro por falha de um colega de Brasília. O plano de vôo do Legacy foi autorizado pelo Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Brasília.

No fim da apresentação do plano de vôo, um dos pilotos americanos disse a seguinte frase: ¿I didn¿t get final fix¿. Ou seja, ele afirma não ter entendido o fim da mensagem do controlador. Mas o controlador nada respondeu e o piloto não tentou esclarecer a dúvida. Questionado sobre o assunto pelo delegado Rubens Maleiner, o controlador disse que, como o jato tomou o rumo indicado no plano de vôo, ele considerou que os pilotos não tinham mais dúvidas sobre os procedimentos a serem adotados ao longo da viagem.

Pilotos americanos, indiciados, voltaram aos EUA

Na sexta-feira passada, a PF indiciou os pilotos americanos por exporem o avião a risco. No mesmo dia, os pilotos retornaram aos Estados Unidos. Para a polícia eles também tiveram responsabilidade pelo desastre. Os pilotos não seguiram o plano inicial de voar nas altitudes de 37 mil pés, 36 mil pés e 38 mil pés. O transponder do jato, equipamento essencial para indicar a altitude exata do vôo, ficou sem funcionar de Brasília até o norte do Mato Grosso. O transponder só voltou a funcionar três minutos depois do choque do Legacy com o Boeing, quando os pilotos precisavam de ajuda para fazer um pouso emergencial.

¿ Para nós, a causa principal foi o não funcionamento do transponder. Se ele estava desligado ou se sofreu uma pane por motivos técnicos ainda não sabemos ¿ disse um oficial da Aeronáutica.