Título: Alerta sobre Argentina e Venezuela
Autor: Passo, José Meirelles
Fonte: O Globo, 13/12/2006, Economia, p. 25

Bird afirma que expansão acelerada não é sustentável devido à `forte inflação¿

WASHINGTON. O invejável crescimento da economia argentina nos últimos dois anos ¿ 9% em 2004 e 9,2% em 2005 ¿ preocupa muito os economistas do Banco Mundial (Bird). Isso porque, segundo eles, o ritmo está acelerado demais. E, sobretudo, porque se baseia em um processo artificial: o controle de preços.

¿ Nosso temor é que esse rápido crescimento acabe sendo reduzido mais do que o esperado, devido às circunstâncias. Já há sinais de superaquecimento, que o governo trata de esconder por meio do controle de preços ¿ disse Hans Timmer, gerente de Tendências Globais, do Grupo de Perspectivas de Desenvolvimento do Bird.

O informe divulgado ontem, coordenado por Timmer, indica que Argentina e Venezuela estão trilhando um caminho perigoso e descendente. O crescimento argentino, projetado este ano para 7,7%, cairá a 5,6% no ano que vem e a 4% em 2008. O venezuelano (9,3% em 2005) este ano será de 8,5%, em 2007 cairá a 6% e, em 2008, para 5,5%. Esse seria o resultado, na melhor das hipóteses, diz o Bird. Ou seja, desde que os países adotem uma política mais realista, imediatamente:

¿ A atual política na Argentina alcança taxas de crescimento muito altas, que, a nosso ver, são insustentáveis. Eles sofrem pressões inflacionárias que enfrentam apenas pela manipulação de alguns preços. Esse é exatamente o tipo de política que no passado levou a períodos de boom e quebras na América Latina. O maior desafio, portanto, é alcançar um crescimento mais sustentável. O mesmo ocorre na Venezuela.

O grande problema na Argentina é que a demanda é cada vez maior que a produção. ¿Forte inflação doméstica, rápidos aumentos de salários, restrições da capacidade doméstica e crescentes perdas deverão reduzir mais o ritmo da produção tanto na Argentina quanto na Venezuela¿, diz o informe. Segundo Timmer, gastos internos e subsídios também afetam a Venezuela, ¿sem contar a falta de compromisso real do governo com uma política macroeconômica sustentável¿. (José Meirelles Passos)