Título: Economistas: Brasil só será potência se superar gargalos de investimento
Autor: Passo, José Meirelles
Fonte: O Globo, 13/12/2006, Economia, p. 25

Para analistas, é preciso atacar informalidade e ter maior abertura econômica

A queda dos juros ocorrida até agora não é suficiente para tornar realidade a previsão do Banco Mundial para o Brasil. Além de cortar ainda mais a taxa e ajustar o câmbio, o país precisa avançar na agenda de reformas para destravar os investimentos, recomendam os economistas ouvidos pelo GLOBO. Entre as medidas citadas por eles estão a melhoria da qualidade do ajuste fiscal e do ambiente regulatório, a diminuição da carga tributária e o aumento da produtividade. Sem isso, dizem, a taxa de investimento não crescerá de forma sustentada nos próximos anos.

O Brasil não está fadado a continuar crescendo a taxas baixas, opina o diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Langoni. Para ele, o fraco desempenho dos últimos anos é conseqüência do grande peso do Estado sobre a economia, que se traduz em elevada carga tributária e em burocracia, desestimulando o investimento:

¿ Será preciso enfrentar esses problemas e obter ganhos de produtividade por meio de maior abertura da economia e da diminuição da parcela da mão-de-obra que está na informalidade, estimada em 40%.

Enquanto China e Índia já vivem a realidade projetada pelo Banco Mundial, no Brasil o câmbio valorizado e volátil, somado aos juros altos, impede o aumento do investimento, opina João Sicsú, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Marcelo Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também vê a baixa taxa de investimento como maior entrave ao crescimento.

¿ Manter juros altos e real forte são decisões de governo e têm o seu preço ¿ diz Sicsú.

Já o diretor do escritório da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) no Brasil, Renato Baumann, recomenda cautela nas comparações do Brasil com China e Índia. Segundo ele, o crescimento da Índia pode não ser sustentável porque é baseado na expansão dos serviços e cria forte dependência de importados.

Ibase alerta para acesso desigual a crédito no país

Uma aceleração no ritmo de queda de juros e um maior acesso ao crédito são vitais para que o país atinja uma expansão econômica superior a 3% ao ano. Esta é a conclusão do estudo mundial "Arquitetura da Exclusão", coordenado pelo Ibase no Brasil.

Para o economista Marco Crocco, da Universidade Federal de Minas Gerais, autor do estudo brasileiro, é preciso que o crédito chegue a quem precisa ¿ em especial, às regiões pobres do Norte e do Nordeste. Para isso, ele sugere a criação de uma regulamentação específica, que estabeleça que um percentual dos recursos captados na região seja direcionado para crédito local, como foi feito na década de 80 por EUA e Itália.