Título: Mantega considera valor excessivo
Autor: Franco, Ilimar e Vascocelos, Adriana
Fonte: O Globo, 15/12/2006, O País, p. 3

Ministro disse ter sido surpreendido com decisão do Congresso

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, considerou ontem excessivo o aumento de salário para parlamentares aprovado no Congresso. Mantega disse ter sido surpreendido com a decisão da Câmara e do Senado. O ministro avisou ainda que o governo não está disposto a conceder verba adicional, caso os gastos do Legislativo com esse reajuste ultrapassem o seu orçamento próprio. Mantega explicou que o salário de ministros (R$8.580) e do presidente da República (R$8.885,48) estão congelados há oito anos. O ministro disse que não defende a extensão do aumento a ministros e ao presidente da República. Mas, em tom de brincadeira, reclamou do seu salário.

¿ Não defendo isso (a equiparação ao salário de R$24.600) porque me parece que para nós, ministros, seria excessivo ter um salário dessa magnitude. Embora eu gostasse muito de receber esse salário. Qualquer dia, faço uma greve para aumentar o meu salário ¿ disse Mantega, sorrindo.

Ao ouvir um jornalista dizer que outros ministros, como Luiz Fernando Furlan e Waldir Pires, também reclamaram dos salários, Mantega respondeu:

¿ Já imaginou eu fazendo greve com o Furlan?

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi evasivo e mostrou irritação ser perguntado sobre a decisão do Congresso:

¿ Não sei minha filha. Você faz pergunta de coisa que eu não sei o que aconteceu.

Mantega ainda não tem idéia do impacto que o aumento no Legislativo provocará nas contas públicas. Ele esperava que os parlamentares apenas corrigissem os salários pela inflação.

¿ Não tenho uma idéia (do impacto do aumento) porque fui pego de surpresa. Achei que o que seria aprovado era o reajuste conforme a inflação passada. O limite tem que ficar confinado ao limite que foi estabelecido. Se precisar de mais recurso, procuraremos não dar. Particularmente, acho que temos que ter cuidado com aumento de gastos com folha de pessoal, especialmente com os maiores salários. Tanto que nós, do Executivo, ganhamos salários bem diferenciados ¿ disse Mantega. ¿ Reajustes têm que ser regrados. Senão, vamos gastar todos os recursos públicos com folhas de pagamento.

Mantega disse ainda que a maior preocupação do governo agora é conter gastos e não com o seu salário:

¿ Não acho que o meu salário seja um grande salário, evidentemente. Mas não estou preocupado com meu salário e sim com os gastos gerais do país. Nossa preocupação é moderar aumentos.

O ministro lembrou que os parlamentares fizeram o que ¿estava dentro da lei¿.

¿ Você pode discutir se foi ou não correto, se foi justo. Eu não vou fazer um julgamento moral e ético. O correto seria que o presidente da República tivesse o maior salário da República e fosse o teto para todos, mas não é assim que a lei estabeleceu ¿ disse Mantega.