Título: Senadora & subsídios
Autor: Garcia, Luiz
Fonte: O Globo, 15/12/2006, Opinião, p. 7

Asenadora Heloísa Helena se despediu do Senado esta semana. Perde o Congresso com isso? Pela qualidade das idéias da brava alagoana, com franqueza, o prejuízo parece pequeno.

Ela habita um mundo mais simples do que aquele em que vivemos, com todos os malvados do lado de lá, todos os sofredores do lado de cá. Ainda fala em declarar guerra ao FMI, congelar dólares estrangeiros, prender banqueiros avarentos e capitalistas inimigos do povo. No último discurso da tribuna, definiu os que não pensam de seu jeito como ¿mercenários bárbaros que vão à guerra cotidiana não por ideal... mas para tomar para si os despojos que uma maldita guerra deixa¿.

E foi também enfática falando de sua própria atuação: ¿Nem meus erros, nem os acertos, nada foi movido por ambição, por dinheiro, por vaidade, por cargos, prestígio, poder... Cem por cento das minhas ações tiveram motivações nobres.¿

É difícil ter paciência com radicais, principalmente os que vivem presos no passado ¿ e ainda por cima não se avexam de, vez por outra, praticar o auto-elogio. Mesmo assim, a senadora deixou respeitável penca de admiradores em Brasília.

Fez por merecer. Tem suas virtudes pessoais e de nenhuma delas há excesso de oferta na política brasileira: honestidade, horror à corrupção de homens públicos, ausência de papas na língua...

Por esse lado, a voz estridente, o uniforme de professorinha do interior e sua irritada impaciência com a hipocrisia alguma falta vão fazer.

Nem todo mundo na mídia comete um certo erro irritante, mas ele ocorre com suficiente freqüência para valer o puxão de orelhas.

Portanto, atenção, pessoal: salário é a remuneração por um trabalho. Membros do Legislativo não têm status de funcionários ou servidores de qualquer natureza. O dinheiro que recebem do Estado tem o nome de subsídio. Além de outros recursos diretos e indiretos, vantagens e prioridades, o subsídio é um dinheiro destinado a ajudar o representante do povo a agir como tal. Se fosse salário, seria cabível, por exemplo, o desconto por faltas a sessões legislativas, pela demora na apresentação de relatórios e votos em comissões etc. Nada disso acontece.

Portanto, comparar os subsídios com salários de altos funcionários do Executivo ou do Legislativo, para definir estes como tetos aceitáveis para aqueles, é erro grosseiro.

A confusão entre subsídios e salários serve aos mal-intencionados ¿ que não merecem ajuda involuntária da mídia.